terça-feira, 1 de março de 2011

O menino



Passos... Passos! Um grupo em retirada. Ninguém olha para o que está sendo deixado. Todos seguem firmes, olhar fixo no horizonte que parece não ter fim. Todos sonham com o futuro.
 O menino vai sorridente entre os transeuntes. Corre. Pula. Faz uma travessura. Ele desmancha a fileira de pessoas abrindo caminho entre eles. Ele puxa a saia da avó. Ele olha para trás, único que desvia o olhar.
Eram muitos, agora apenas um. Há pouco tempo o menino estava acompanhado de uma multidão, mas ficou sozinho. A imensidão daquele caminho desértico o assusta.
Vó! Vó! –grita o menino. Inútil, ninguém o ouve. Ele quer chorar. Chora não menino, onde foi parar o belo sorriso que dantes exibias? Busque o mesmo em teu íntimo e não te assustes.
Ele avança, desesperadamente, fazendo poeira no chão árido daquele lugar. Mas é como se não chegasse a lugar algum... Ele não sabe o que fazer. Ele é só um menino!
O dia se vai. Brotam de seus olhos miúdos as únicas gotas de água que há ali. O menino está cansado, com fome, garganta seca. A escuridão nutre seu medo interior.
Ele se deita ao pé de algo que um dia foi uma árvore.  A dor do abandono o destrói. Aos poucos ele fica inerte, olhos entre abertos contemplando o céu estrelado. É noite de lua cheia. Frio. O menino está sereno... Morte!

                                 Jefferson Piaf