sábado, 29 de janeiro de 2011

Os dissabores do amor




Tudo voltou a ser como antes! O menino que começava a acreditar na existência do amor se sente traído.
Seu castelo de areia foi esmagado por um feroz gigante, e o que sobrou foi levado pelo mar... Sonhos, planos, felicidade. Tudo perdido!
Ele caiu outra vez no grande buraco da solidão! A amargura corrói seu frágil coração. Ele só queria ser feliz.
Maldito amor que se apresentou de forma benévola, e depois aniquilou qualquer resquício de esperança que habitava dentro de seu corpo!
Ele diz que nunca mais amará; Se fechará em seu mundo particular. Nesse mundo só há lugar para ele e mais ninguém! O medo volta a dominá-lo.
Sua alma de criança derrama a última gota de sangue... Não sobrará mais nada dele! Ah, O futuro... Não há presente, então não se pode pensar em futuro.
Tudo que há é angústia, amargura de ser enganado! Nunca mais veremos estampado em seu rosto o sorriso de quem está apaixonado.
Mais isso passa... Tudo na vida passa, e com o tempo aprende-se a superar as perdas! É só tristeza pela perda do primeiro amor.
Um dia ele acorda bem; pronto para amar outra vez, e tudo se repete. Deixe ele chorar; deixe ele sofrer; deixe ele se isolar... O sofrimento muito tem a ensinar aos que ainda gozam de boa idade.
                                      Jefferson Piaf

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Lembranças de uma mente vazia. Capítulo I, parte II

É deprimente vê-la em tal situação... Vencida pelo cansaço ela adormece e não vê quem entrou na sala.
Uma mulher loira; gorda; alta; aparentando cinquenta anos e vestida com uma bata branca empurra a grande porta de madeira. Nas mãos ela carrega uma bandeja de prata. Uma enfermeira, se bem que sua roupa está muito suja e velha para ser farda de tal profissão!
A “gigantona” fala algo que não se pode compreender. Idioma esquisito esse falado por aqui.
Ela aparenta mau humor.
A enfermeira continua falando; parece ser códigos. Ela olha indiferente para moça largada no chão. Essas paredes manchadas são de causar ânsias de vômitos. Mesmo com uma péssima iluminação, é possível enxergar alguns desenhos nas paredes... Mãos, manchas de sangue... Sangue velho!
Com seu linguajar indecifrável, ela se aproxima do corpo e injeta algumas seringas. Depois aperta firme o pulso da mulher e rosna algumas coisas...
Após a mulher loira sair da sala com seus passos aterrorizantes, entra um velho arrastando uma balde. Sem o mínimo de compaixão, pelo ser humano, ele despeja água fria no corpo ali jogado.
O que já estava difícil de entender agora está pior!
Ambos que passaram por aqui agiram como se não tivesse ninguém nessa sala. Parece que esta mulher, bem aqui deitada em condições alarmantes, está invisível. Eles pareceram estar acostumados a fazer isso.
A frieza com que eles agiram é de doer à alma de qualquer pessoa. A mulher continua largada no chão. Com muito frio ela começa a tremer... Sua respiração vai enfraquecendo aos poucos. As mãos dela começam a bater no chão como se tivesse afastando algo... Agora as mesmas mãos se chocam contra o corpo.
 Alucinação...
Ela quer falar algo... Suas expressões faciais são de medo. Ela simula estar fugindo de alguém...
Medo... Grito... Mãos espalmadas... Terror!
“Paulo, cuidado!”
Quem é Paulo? Por que ela chamou por esse homem?
Após chamar por esse nome, ela fica calma. Adormeceu outra vez. Não dá para entender de onde vem tanta força, pois, ela está sem comer a muitos dias... Tinha alguma coisa estranha naquelas seringas!



sábado, 22 de janeiro de 2011

Lembranças de uma mente vazia. Capítulo I. Parte I

Acordei com dor de cabeça.
Está tudo girando em minha frente.
Só o que vejo é uma sala úmida e pouco iluminada. Uma luz fraca e entrecortada vem do bocal velho do teto.
Tudo aqui cheira a mofo.
O estalar das gostas de água, caídas do teto, deixam minha cabeça pior!
Eu não sei onde estou.
Forço a mente para lembrar por que estou aqui, mas não me lembro de nada... É como se tivessem apagado minhas lembranças.
Tudo foi apagado: meu nome, minha história, minha vida... Fico aterrorizada! E pergunto-me por que fizeram isso comigo.
O que será que fiz? 
Em vão eu tento buscar respostas, dentro de mim, que não há.
Minha roupa está rasgada e com manchas de sangue. Deve ser meu sangue! O medo começa brotar em meu âmago quando começo a me dar conta que estou enclausurada.
Não há saída.
Quero fugir desse lugar, sair correndo... Impossível, estou impotente. Tento levantar-me, mas não sinto meu corpo, parece que cortaram minhas pernas. Meu corpo não obedece ao comando do meu cérebro. Acho que apagaram até minha capacidade de andar... Estou me conhecendo outra vez!
Minha visão ainda está turva, mas consigo ver uma porta a minha frente. Uma porta grande, e aparentemente muito segura. Ver essa porta despertou em mim à esperança de sair daqui. Conquanto, logo recordo que não consigo andar! Imerso, outra vez, no mar das desilusões.
Mas eu posso gritar! Mesmo achando impossível que alguém me escute, eu tento gritar... Minha voz não sai! Penso que é o meu nervosismo travando o mecanismo da minha fala. Descanso um pouco e recomeço as tentativas de gritar.  Frustração. Não consigo falar. Roubaram-me o direito de expressão! Malditas pessoas que fizeram isso.
Será que isso é real? Sim, pode ser um sonho! Muitos sonhos se aproximam da realidade... Eu devo estar sonhando, em breve acordarei e saberei quem sou. Eu queria mesmo que fosse só um sonho triste, porém, com o passar do tempo tenho a convicção de que é tudo verdade.
Mergulho em um rio de lágrimas... Não dá para controlá-las! Tento abstrair meus pensamentos para não pensar no pior... Morte!
Não paro de pensar o que irá acontecer comigo. Se eu ficar aqui nessas condições, eu morrerei. Mas estou inerte, impediram-me de tudo! Fecho os olhos na esperança de lembrar alguma coisa... Nada vem a minha mente. Nenhuma pista sobre minha história. Tudo que sei de mim é que sou uma mulher que não anda, não fala e não tem memória.
Passos... Ruídos.
Parece que alguém está empurrando algo muito pesado! Mas onde?  Não sei responder...
Em seguida, silêncio! Nada além de minha respiração eu posso ouvir. Choro novamente! Não tenho noção alguma de tempo, a solidão começa a destruir meus neurônios. Meu psicológico está em curto-circuito.
Meu coração está acelerado, as lágrimas não cessam...
Imagens bizarras passam em minha cabeça! É o efeito de ficar muito tempo em uma sala inóspita. As alucinações persistem em me perturbar! Sinto uma enorme triste, mas não entregarei os pontos...
Ainda há, lá no fundo, a esperança de que eu sobreviverei a tudo isso! Tenho dentro de mim a fé na ilusão de que tudo não passa de uma triste experiência. Um triste engano. Em breve eu serei salva.
Os passos voltam e dessa vez sem barulho de arrastado. Alguém parece caminhar. Passos firme; devem pertencer a uma pessoa resoluta, autoritária. Cada passo que escuto é um tiro em meu peito. O som deles me causa medo. Medo do que pode me acontecer.
 Os passos se aproximam e eu vou enfraquecendo. Tento lutar para ficar acordada e ver quem entrará, mas não aguento...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A desilusão do poeta




Não há mais dia. Só há incerteza!
O sol transformou-se numa grande bola cinza que se dissolve, aos poucos, tingindo o céu que um dia foi azul!
Os pássaros calaram-se para sempre... Nada é como antes!
O mundo não será mais o mesmo sem as ilusões do poeta!
O menino sonhador está adormecido; envolto a tristeza!
Ele já não vê mais sentido em sua existência... A solidão ecoa voraz dentro de seu coração!
Só há ruínas onde outrora havia a alma de um jovem que sonhava com a liberdade, igualdade e fraternidade para todos.
Árvores decrépitas abrem caminho para o triste senhor das letras...
 Todos o saúdam com melancolia... Ainda tem os que comentam que ele tinha uma brilhante carreira como poeta, mas o destino pregou-lhe o infortúnio da desilusão.
Os versos que expressavam alegria, felicidade... Versos que exaltavam a beleza da natureza; da mulher; da vida, dão lugar aos versos ásperos...
Não há nada a se fazer!
Se até o poeta, que é o mais sonhador de todos os seres, já não sonha; o que direi de nós, insensíveis mortais?

                                     Jefferson Piaf

*Texto dedicado a meu grande amigo PAULO HENRIQUE FONSECA.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Querida Ana, tenho pensado muito em minha vida nos últimos tempos. Essa triste doença tem ceifado minhas forças mais e mais. Resolvi escrever-te essa carta antes que seja tarde. O tempo que tenho passado aqui no asilo tem sido muito importante para mim. A solidão tem me ensinado muitas coisas. Ela tem me mostrado o quanto é ruim ser abandonado por todos! Mas eu caí no buraco cavado por mim mesmo.
Parece que foi ontem que éramos jovens. Lembras? Éramos dois loucos, Ana. Sinto muita falta de nossa juventude, de nossa geração. Hoje eu percebo quão feliz eu era ao teu lado. Tarde demais pra sentir tua falta; teus conselhos, assim como de tuas reclamações.
A vida é uma peça em três atos, minha jovem Ana. O primeiro ato é a infância. Época de descobertas! Lembro de minha infância com um gosto de terra; de vento; de sonhos... Corríamos desesperadamente pelas ruas de nosso bairro. Eu só pensava em brincar e em ser eternamente criança.
Mas o primeiro ato se vai e junto a ele os sonhos de menino. A adolescência inicia o segundo ato. Eu fui um adolescente muito rebelde, espero que nossos filhos não tenham muito de mim na adolescência!  Naquele tempo minha vida se resumia a Rock in Roll. Minha mãe ficava louca comigo! Meu pai dizia que era coisa de adolescente. Eu só estava vivendo uma pequena fase... Ele só errou quanto à pequena!
Lembras de quando nos conhecemos naquele show?  Nossos amigos nos juntaram. Eu era o “porra-louca”, e você era a politicamente correta. Você foi a mulher que mais amei, porém, eu fui um estúpido-como em toda minha vida- com você... Minha irresponsabilidade afastou-me de ti. Guardo em meu peito até hoje uma tristeza por tudo que te fiz.  Infelizmente a ciência não avançou ao ponto de criar uma máquina de voltar no tempo, como nos filmes. Se essa máquina existisse eu queria uma para mim. Voltaria ao passado e concertaria toda minha vida.
A vida adulta chegou e eu continuava o mesmo adolescente rebelde! Sofro muito quando me remeto até meu passado e Lembro-me das oportunidades que não aproveitei. Sofro em recordar os amigos que perdi por causa de meus vícios...
Continuando a falar sobre os três atos que formam a vida... Prometo que serei breve, não quero e não tenho o direito de atrapalhar mais tua vida com minhas lamentações de velho. O segundo ato acaba com a chegada da velhice. O terceiro ato parece o fim. Pode até ser para algumas pessoas! Para outras é só o começo de muitas coisas boas... É uma lástima que eu não posso fazer parte destas.  Meu terceiro ato se resume a uma cama, e a um monte de remédios; eles que me mantêm vivo. Sinto muita falta do meu espírito de menino sonhador, não sei o que se fez dele! Não há tempo para lamentações, minha querida Ana.
Sei que tu não estás a entender nada. Realmente, é muito estranho eu escrevendo para ti. Como disse no começo da carta, eu tenho pensado muito em minha vida, e por isso resolvi escrever. Resta-me pouco tempo aqui na Terra, e não quero morrer sem pedir-te perdão por tudo que te fiz. Peço-te que me perdoes com esse teu coração doce e bondoso. Por favor, Ana, não guardes nenhuma mágoa do passado. É difícil perdoar, principalmente quando alguém nos fez sofrer, eu tenho plena consciência que te fiz muito mal, mas insisto que me perdoes... Peço também outra coisa: por favor, não venhas me visitar! Não quero que me vejas nesse estado, com esse corpo hermético!
Vou ficando por aqui minha doce Ana. Fico com a lembrança dos momentos bons de minha vida e todos os momentos que estive ao teu lado.

                                                                    Paulo César.


                                                                       Por: Jefferson Piaf

Da janela do meu quarto




Da janela do meu quarto eu vejo crianças a brincar, a pular... Meninos com sorrisos largos no rosto.
Vejo senhoras a conversar; lamentam-se por outrora, pela juventude passada!
Da janela do meu quarto eu vejo moças apaixonadas. Moças sonhadoras... São meninas despertando para vida!
Da janela do meu quarto eu vejo casais de namorados a passear; contemplam a imensidão do céu azul... Rapazes que amam com toda força de sua juventude!
Da janela do meu quarto eu vejo Dalí com todo seu surrealismo! Pulam elefantes gigantes; voam borboletas... O abstrato se transforma no bizarro! É devaneio de um aprendiz de poeta.
Da janela do meu quarto só não vejo meu amor. Não sei onde ele está agora; não sei o que se fez dele!
Fecho os olhos, por alguns minutos, e vejo meu amor passar pela janela do meu quarto com seu sorriso de menino enamorado!
Da janela do meu quarto eu sonho, eu sofro, eu brinco, eu choro... Eu vejo a vida passar.
Da janela do meu quarto eu espero meu amor chegar.
                                  
                                                 Jefferson Piaf

domingo, 2 de janeiro de 2011

Saudade...






Saudade dos tempos de criança, eu era feliz e nem sabia!
Saudade das brincadeiras nas férias! Naquele tempo só tínhamos uma responsabilidade: Sonhar.
Saudade de quando minha avó banhava-me no tanque velho lá de casa. Saudade de quando ela se esquecia de ir me buscar na escola!
Saudade de correr pelo campo, de brincar de pique - esconde, de jogar bola de gude...
Saudade das tardes que passávamos deitados na calçada da casa da esquina a fazer nada, a sentir o vento.
Saudade das traquinagens de menino!
Saudade dos gritos de minha mãe a chamar-me para almoçar!
Saudade da infância, da inocência... Naqueles tempos era possível ser criança.
Saudade das guerras de barro na época da pavimentação de nossa rua.
Saudade de meus amigos dos tempos de criança... Eles se foram junto à infância!
Saudade do primeiro dia na escola... Saudade das tias do primário.
Saudade das palavras obscenas aprendidas no colégio!
Saudade do tempo que queríamos ser tudo e ao mesmo tempo nada! Professor, médico, advogado, engenheiro, arquiteto...
Saudade de brincar de viajar o mundo! Uma cidade por dia: Paris, Madri, Lisboa, Bruxelas, Roma, Tóquio...
Saudade do primeiro beijo! Saudade do primeiro amor... Saudade de amar!
Saudade... Saudade... Saudade... Saudade... Tudo se resume a essa palavra!
                                Jefferson Piaf

A carnificina do amor



Não quero amar, não quero o amor... Não esse amor malévolo que nos torna escravos seu.
Quero o doce amor do poeta pela vida. O amor do inocente poeta pelo mundo.
O amor jovial que nos deixa longas noites sem dormir pensando na pessoa amada.
Não quero o amor doentio, irracional. Esse falso amor que destrói nossos corpos como vermes sedentos por destroços.
Quero o amor pulsante, o amor que nos deixa sensíveis o suficiente para contemplar o desabrochar da mais linda flor do dia.
Quero o amor de Picasso por sua arte. Amor este que o sugou por completo até a morte.
Mas o amor não existe... O amor só existe nos versos. Só nos poemas o amor é perfeito, imaculado. Na vida real só há o amor feio, sofrido, lânguido. Esse amor eu não quero!
Vou embora sem destino... Não há porquê ficar aqui, não há porquê sonhar com o amor. Ele não passa de uma ilusão de menino.
Vou embora, e quero como companheiras a solidão e a desilusão de um amor. Farei de minha casa esse mundo sem fim... Farei do vento minha dança eterna. Nada me prende aqui. Não tenho mais amor, não tenho mais vida.
Eu quero ver o mar...
                               Jefferson Piaf

sábado, 1 de janeiro de 2011

O homem e a Ilha




Em uma noite chuvosa um navio que se dirigia ao norte naufragou, e só um jovem salvou-se. Não se sabe como aquele rapaz conseguiu sobreviver. Ele foi arrastado pelo mar até uma ilha distante; acordou com as ondas a banhar-lhe o rosto.
O rapaz estava confuso, mas aos poucos foi lembrando-se do ocorrido. Poucas lembranças. Ao longe ele avistou uma floresta, e perto dela havia uma cabana. O jovem seguiu em direção àquele casebre de palha. Mesmo com muita dor de cabeça e muita tontura ele conseguiu chegar até lá.
A cabana aparentava estar abandonada, entretanto, por dentro ela estava em perfeita ordem. Alguém deve ter passado há pouco tempo por ali. O rapaz ficou feliz por achar abrigo nas circunstâncias que se encontrava. Com muito sacrifício ele fez uma pequena fogueira para se aquecer, e ainda tinha algumas frutas dentro de uma cesta.
Aos arredores daquele abrigo havia muitas árvores com frutas diversas. O tempo foi passando e o jovem já estava acostumado àquela ilha, ele não se preocupava mais em sair de lá. Naquele lugar ele tinha tudo que precisava: muitas frutas; água de coco em abundância; um lugar para dormir... O homem nunca se preocupou em saber o que tinha por trás da floresta, pois tudo que ele precisava estava ao alcance. Não tinha porquê sair explorando o desconhecido sem necessidade.
O homem envelheceu ali naquela ilha, naquele mesmo lugar perto da praia. Após trinta anos de claustro ele morreu. Não se sabe até hoje a causa da morte, deve ter sido velhice, solidão... O velho morreu sem saber que depois daquela floresta existia uma grande cidade. Ele só precisava seguir uma trilha. Mas ele teve tudo que uma pessoa necessita para viver. Explorar aquela floresta seria cansativo, ele ficaria doente e poderia ser mordido por algum bicho. O inocente homem passou trinta anos tão longe e tão perto do mundo.

                                Jefferson Piaf