domingo, 14 de agosto de 2011

Ao nascer do sol

                                                        Parte II

Assim que o ônibus chegou à cidade, nossa Ângela ficou admirada, e ao mesmo tempo assustada, com aquela imensidão de prédios, carros, pessoas... Sons que se confundiam: Era a rotina daquele lugar. A cidade grande era uma verdadeira desordem. Ela sentiu um forte aperto em seu coração. Agora não tinha como voltar, pois ela não tinha dinheiro. Aonde ir? O que fazer?  Onde estão os empregos? Fome... Ângela estava muito atordoada com essas perguntas, e não sabia o que fazer quando deixasse aquele ônibus, sua vontade era nunca sair dali.
 Ela precisava ter coragem, a mesma que a fez deixar a seca, a fome... E lutar por algo melhor! Mas é difícil para um coração tão sofrido ter coragem nessas horas. Aquelas lojas repletas de comida fizeram a barriga da moça dá sinal de vida, mas o único jeito de comer era pedindo, e assim ela o fez. “Não... Não... Não...”- Foram tantos que ela desistiu.  Chuva... Não há onde se refugiar, essa chuva, repentina, não dissolveu só uma bela tarde ensolarada, mas também sonhos e planos de toda uma vida. As lágrimas da pobre Ângela se misturavam as águas daquela chuva que trouxera a voraz realidade à sua vida.
 Andando sem destino ela vê um aglomerado de pessoas, que ao que parece estão comendo... Rapidamente ela se dirigiu até lá: era os fundos de uma grande rede de restaurantes, e aquelas pessoas eram mendigos catando restos de comida, eles lutavam entre si pelas sobras! A recém-chegada aproxima-se para catar comida também, e logo é rejeitada pelo bando; eles se negam a dividir o que foi conquistado por eles. Cada um que trate de achar seu lugar de obter comida! São verdadeiros animais brigando por alimento, por sobrevivência... Não há mulher, nem homem, e sim bichos! Seres sem nome, sem história, sem vida...  Eles são o espelho do futuro de Ângela.
Após muitos dias andando pela cidade grande, ela encontra um viaduto, onde faz sua morada.  Nada de emprego, nada de dinheiro, e a única comida que ela tem vem do lixo. A saudade de casa aumenta todos os dias, e o desespero começa a se destacar em seu corpo. Ela quer voltar para casa, mas como? Impossível! Aquele corpo cadavérico bate em várias portas em busca de um trabalho digno, mas ninguém lhe dá oportunidade por que ela não tem moradia fixa; se não tem um endereço, logo não é uma pessoa confiável.
O tempo passa, e ela está convencida de que nunca mais verá seus pais, seu filho, seu sertão... Dói muito pensar nisso! A frustração só não é maior que sua fome. A capital é um verdadeiro paradoxo: Pensava-se que a fome só existia no sertão, mas não, a fome existe em qualquer lugar; até na cidade; eis outro paradoxo: há duas cidades em uma só! A cidade farta em comida, em bem-estar, e ao mesmo tempo a cidade de miséria, escassez de comida; de humanidade!
É preciso conseguir grana para voltar, mas em suas condições só há uma saída: Prostituição...

                                                           Jefferson Piaf