sábado, 18 de junho de 2011

Ao nascer de um novo Sol



                                   Parte I

Quatro horas da manhã, o canto do fatigado galo acorda Ângela; que mal dormiu naquela noite. O dia que se aproximava trazia muitas dúvidas e incertezas a despeito de seu futuro. Inúmeras vezes passou em sua cabeça a ideia de desistência, continuar ali, até morrer, seria mais fácil. Porém, a miséria daquele lugar já tinha torturado-lhe a alma, mais que ao corpo, por demais. Mesmo com medo ela queria prosseguir. Com o coração apertado beijou o corpo lânguido; deitado em algo que simulava uma cama: era seu filho! Os pais de Ângela ainda dormiam, melhor não fazer muito barulho para não acordá-los. Sem despedidas sofre-se menos.
  Os olhos dela estão fixos naquela estrada de barro que se perde no horizonte. Será que o ônibus não vem? Ângela tenta não desanimar. Após uma longa espera ele chega. O que ela não sabia é que o ônibus chegou à mesma hora dos outros dias, ela que tinha se antecipado, mas o único relógio que aquela ignara mulher possuía era o velho galo da família; que já não cantava nas horas certas. O ônibus se aproxima e seu coração bate mais forte, ainda há tempo de voltar. Da janela do ônibus ela vê sua casa se distanciando, a poeira apaga sua história. Uma efêmera vontade de se levantar daquela fétida cadeira e sair daquele ônibus a oprimia, mas, ao mesmo tempo, seu estômago faminto a faz lembrar-se de uma infância imersa em fome, sofrimento, tristeza, solidão... Não, ela não deseja voltar! Nem a dor de ter abandonado um filho, tão pequeno, a fará voltar. É por ele que ela fez isso.
  Na capital sua vida será completamente diferente, lá ela conseguirá emprego, moradia digna, comida... E trazer sua família para perto de si! Ângela nunca freqüentou uma escola, a única que havia em seu município era longe e a prefeitura não disponibilizava condução. Esse mesmo fado seria de seu filho. Como muitas crianças daquele lugar, a escola da menina fora o imenso sertão, tendo como professora a fome!
 A chegada à cidade grande trazia àquele triste coração a esperança de dias melhores. Mesmo não conhecendo nada daquela cidade, pois Ângela nunca saíra do sertão, Ela estava satisfeita pela pequena conquista. Agora esperar o que há de vir...
                    
                                                        Jefferson Piaf