sexta-feira, 7 de outubro de 2011

“Eu te amo”.

Agora é tarde. Não há mais o que ser feito. Não há mais o que ser dito... A morte chegou até ela. E em seus últimos segundos de vida ela disse “Eu te amo”. Ela poderia ter dito tantas coisas, mas foi tudo tão rápido, muitos acontecimentos passaram em sua cabeça naquele momento, toda sua vida foi repassada na velocidade da luz. Ela chegou à conclusão de que tinha sido feliz. Essas três palavras resumiram tudo o que ela tinha pra dizer, mas o tempo não lhe permitiria ser prolixa, já não havia mais forças. Muitas vezes ela teve que ser forte como um homem para enfrentar as intempéries dessa vida, outras vezes teve que ser tão frágil quanto uma boneca... Ela enfrentou tudo, menos a morte. Mas quem irá enfrentar esta? A morte é o fado que cabe a todos, não adianta relutar contra ela e nem muito menos fugir, pois uma hora ela chega, na nossa hora ela vem. Foi assim que ela agiu: em momento algum se opôs, aceitou a todo passivamente, pois tudo que ela podia ter feito nessa vida ela fez; amou, chorou, sorriu, sofreu, por vezes odiou também... Mas no fim de tudo foi feliz. Foi assim que ela se sentiu ao olhar para trás, no seu leito de morte, e ver cada trecho de sua história. “Eu te amo” é tão pequeno, mas de significado imensurável. O tempo passará e aos poucos todos aprenderam a controlar a dor causada por sua ausência, só terão uma lembrança longínqua dos momentos felizes, e também dos tristes, que compartilharam. A vida segue, até que chegue a nossa vez...

                                   Jefferson Piaf

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O homem.

Eu tinha largado do trabalho e caminhava por uma rua pouco iluminada, em direção ao ponto de ônibus, quando vi mais a minha frente algo estendido no chão. A princípio pensei que fosse lixo ou roupas velhas, pois as pessoas passavam por perto e não esboçavam alguma reação. Quando me aproximei da “coisa” vi que era um velho que parecia dormir. Um homem meu Deus! Muitas pessoas, inclusive eu, passavam por ali e olhavam como se fosse algo natural. Meu cansaço era tamanho a ponto de encarar aquilo com naturalidade. A imagem daquele corpo sorumbático não saía da minha cabeça, e por mais que eu não desejasse lembrar- Tentei inúmeras vezes pensar em outras coisas- eu não conseguia. Um homem! Como seria seu nome? Qual seria sua história? Por que ele estava ali jogado? Podia chover! Eram tantas perguntas... E as pessoas que não se comoviam? Eu havia esquecido que nos dias de hoje isso é tão comum. Todos estamos muito ocupados, não “perdemos tempo” com o próximo, principalmente quando o próximo é um mendigo. Somos verdadeiros computadores ambulantes, fazemos tudo ao mesmo tempo: essa é maior virtude da vida pós-moderna. Aquele homem chamou a minha atenção para outra questão importante: a invisibilidade social; ele era só mais um caso. Quantas vezes não enxergamos a pessoa que recolhe o lixo, ou a pessoa que faz a limpeza, ou ainda aquele professor que todos os dias dorme tarde preparando aula; muitas vezes não os enxergamos por que só nos preocupamos com nossas futilidades. Tá aí um dos piores males da humanidade: o egoísmo.

Se continuarmos a olhar só para nosso umbigo onde iremos parar?

                                             Jefferson Piaf
*Para Minha querida Alice Rocha.

domingo, 14 de agosto de 2011

Ao nascer do sol

                                                        Parte II

Assim que o ônibus chegou à cidade, nossa Ângela ficou admirada, e ao mesmo tempo assustada, com aquela imensidão de prédios, carros, pessoas... Sons que se confundiam: Era a rotina daquele lugar. A cidade grande era uma verdadeira desordem. Ela sentiu um forte aperto em seu coração. Agora não tinha como voltar, pois ela não tinha dinheiro. Aonde ir? O que fazer?  Onde estão os empregos? Fome... Ângela estava muito atordoada com essas perguntas, e não sabia o que fazer quando deixasse aquele ônibus, sua vontade era nunca sair dali.
 Ela precisava ter coragem, a mesma que a fez deixar a seca, a fome... E lutar por algo melhor! Mas é difícil para um coração tão sofrido ter coragem nessas horas. Aquelas lojas repletas de comida fizeram a barriga da moça dá sinal de vida, mas o único jeito de comer era pedindo, e assim ela o fez. “Não... Não... Não...”- Foram tantos que ela desistiu.  Chuva... Não há onde se refugiar, essa chuva, repentina, não dissolveu só uma bela tarde ensolarada, mas também sonhos e planos de toda uma vida. As lágrimas da pobre Ângela se misturavam as águas daquela chuva que trouxera a voraz realidade à sua vida.
 Andando sem destino ela vê um aglomerado de pessoas, que ao que parece estão comendo... Rapidamente ela se dirigiu até lá: era os fundos de uma grande rede de restaurantes, e aquelas pessoas eram mendigos catando restos de comida, eles lutavam entre si pelas sobras! A recém-chegada aproxima-se para catar comida também, e logo é rejeitada pelo bando; eles se negam a dividir o que foi conquistado por eles. Cada um que trate de achar seu lugar de obter comida! São verdadeiros animais brigando por alimento, por sobrevivência... Não há mulher, nem homem, e sim bichos! Seres sem nome, sem história, sem vida...  Eles são o espelho do futuro de Ângela.
Após muitos dias andando pela cidade grande, ela encontra um viaduto, onde faz sua morada.  Nada de emprego, nada de dinheiro, e a única comida que ela tem vem do lixo. A saudade de casa aumenta todos os dias, e o desespero começa a se destacar em seu corpo. Ela quer voltar para casa, mas como? Impossível! Aquele corpo cadavérico bate em várias portas em busca de um trabalho digno, mas ninguém lhe dá oportunidade por que ela não tem moradia fixa; se não tem um endereço, logo não é uma pessoa confiável.
O tempo passa, e ela está convencida de que nunca mais verá seus pais, seu filho, seu sertão... Dói muito pensar nisso! A frustração só não é maior que sua fome. A capital é um verdadeiro paradoxo: Pensava-se que a fome só existia no sertão, mas não, a fome existe em qualquer lugar; até na cidade; eis outro paradoxo: há duas cidades em uma só! A cidade farta em comida, em bem-estar, e ao mesmo tempo a cidade de miséria, escassez de comida; de humanidade!
É preciso conseguir grana para voltar, mas em suas condições só há uma saída: Prostituição...

                                                           Jefferson Piaf


sábado, 18 de junho de 2011

Ao nascer de um novo Sol



                                   Parte I

Quatro horas da manhã, o canto do fatigado galo acorda Ângela; que mal dormiu naquela noite. O dia que se aproximava trazia muitas dúvidas e incertezas a despeito de seu futuro. Inúmeras vezes passou em sua cabeça a ideia de desistência, continuar ali, até morrer, seria mais fácil. Porém, a miséria daquele lugar já tinha torturado-lhe a alma, mais que ao corpo, por demais. Mesmo com medo ela queria prosseguir. Com o coração apertado beijou o corpo lânguido; deitado em algo que simulava uma cama: era seu filho! Os pais de Ângela ainda dormiam, melhor não fazer muito barulho para não acordá-los. Sem despedidas sofre-se menos.
  Os olhos dela estão fixos naquela estrada de barro que se perde no horizonte. Será que o ônibus não vem? Ângela tenta não desanimar. Após uma longa espera ele chega. O que ela não sabia é que o ônibus chegou à mesma hora dos outros dias, ela que tinha se antecipado, mas o único relógio que aquela ignara mulher possuía era o velho galo da família; que já não cantava nas horas certas. O ônibus se aproxima e seu coração bate mais forte, ainda há tempo de voltar. Da janela do ônibus ela vê sua casa se distanciando, a poeira apaga sua história. Uma efêmera vontade de se levantar daquela fétida cadeira e sair daquele ônibus a oprimia, mas, ao mesmo tempo, seu estômago faminto a faz lembrar-se de uma infância imersa em fome, sofrimento, tristeza, solidão... Não, ela não deseja voltar! Nem a dor de ter abandonado um filho, tão pequeno, a fará voltar. É por ele que ela fez isso.
  Na capital sua vida será completamente diferente, lá ela conseguirá emprego, moradia digna, comida... E trazer sua família para perto de si! Ângela nunca freqüentou uma escola, a única que havia em seu município era longe e a prefeitura não disponibilizava condução. Esse mesmo fado seria de seu filho. Como muitas crianças daquele lugar, a escola da menina fora o imenso sertão, tendo como professora a fome!
 A chegada à cidade grande trazia àquele triste coração a esperança de dias melhores. Mesmo não conhecendo nada daquela cidade, pois Ângela nunca saíra do sertão, Ela estava satisfeita pela pequena conquista. Agora esperar o que há de vir...
                    
                                                        Jefferson Piaf

quarta-feira, 20 de abril de 2011

O nascimento da Esperança



Hoje acordei e pensei que seria mais um dia como outro. Mais um dia de tristeza!
Há muito tempo que o sol não reverbera em minha vida. Há muito que a lua se mostrou! O céu, que um dia fora azul, está negro; assim como eu estou por dentro.
Porém, prometi para mim mesmo que não sofreria mais; que não choraria mais. Mas não prometi que seria feliz! Só prometi que viveria por que meu corpo assim o quer, contrariando o desejo de minha alma.
Nunca mais terei momentos de alegria. A luz que me guiava fora apagada, planos destruídos, sonhos deixados ao longo desse monstruoso caminho que percorro. E quem fez tamanha maldade? Certo sentimento, que aparentemente é muito inofensivo, chamado amor!
Eis o maior erro do ser humano: amar! Amar além do que a alma suporta. E quando estamos reféns, cortam a meada que nos nutre desse tal amor. Acordamos rapidamente dessa utopia!
O sol de verão tornou-se uma gigante bola cinzenta.  As manhãs de domingo com gosto de preguiça tornam-se mais um indesejado dia de existência.
                  Isso!
Deixa-se de viver e passa-se a existir!
Porém, prometi para mim mesmo que não sofreria mais; que não choraria mais. Mas não prometi que seria feliz! Só prometi que viveria por que meu corpo quer viver, contrariando minha alma.
Mas ao acordar hoje vi que no céu escuro havia uma pequena mancha branca. No chão árido nascera uma pequena margarida; tímida, se mostrando aos poucos. A vontade de não mais viver, que eu tinha está se apagando!
O mar, que até então estava inerte, convida-me- com o bailar de suas ondas- a dar uma chance a vida.
A esperança começou a brotar...

                                                                 Jefferson Piaf

terça-feira, 1 de março de 2011

O menino



Passos... Passos! Um grupo em retirada. Ninguém olha para o que está sendo deixado. Todos seguem firmes, olhar fixo no horizonte que parece não ter fim. Todos sonham com o futuro.
 O menino vai sorridente entre os transeuntes. Corre. Pula. Faz uma travessura. Ele desmancha a fileira de pessoas abrindo caminho entre eles. Ele puxa a saia da avó. Ele olha para trás, único que desvia o olhar.
Eram muitos, agora apenas um. Há pouco tempo o menino estava acompanhado de uma multidão, mas ficou sozinho. A imensidão daquele caminho desértico o assusta.
Vó! Vó! –grita o menino. Inútil, ninguém o ouve. Ele quer chorar. Chora não menino, onde foi parar o belo sorriso que dantes exibias? Busque o mesmo em teu íntimo e não te assustes.
Ele avança, desesperadamente, fazendo poeira no chão árido daquele lugar. Mas é como se não chegasse a lugar algum... Ele não sabe o que fazer. Ele é só um menino!
O dia se vai. Brotam de seus olhos miúdos as únicas gotas de água que há ali. O menino está cansado, com fome, garganta seca. A escuridão nutre seu medo interior.
Ele se deita ao pé de algo que um dia foi uma árvore.  A dor do abandono o destrói. Aos poucos ele fica inerte, olhos entre abertos contemplando o céu estrelado. É noite de lua cheia. Frio. O menino está sereno... Morte!

                                 Jefferson Piaf

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

O medo


Silêncio! O medo toma conta de mim...
A vida passa em meus olhos como um filme em câmera lenta. O passado se confunde com o presente e desfaz o futuro!
Silêncio! O medo toma conta de mim...
O sonho está por um fio. Ele foi reduzido a pó, e o vento que me assombra o arrasta para o desconhecido. Vejo com muito sofrimento ele se afastar de mim.
Silêncio! O medo toma conta de mim...
Da alegria passo rapidamente à tristeza! E se voltasse e refizesse tudo? Impossível mudar o passado!
Silêncio! O medo toma conta de mim...
Não tenho chão. Os móveis de casa querem me pegar. Eles me chamam de fracassado. Não consigo fugir deles!
Silêncio! O medo toma conta de mim...
Todos me olham quando passo. Não tenho mais meu sonho. Quero uma nova esperança, mas não a encontro.
Silêncio! O medo toma conta de mim...
O trem das seis passa já. Posso dar fim a tudo isso. Falta coragem. Escuto o trem a me chamar com seu apitar.
Silêncio! O medo toma conta de mim...
Caí na prisão criada por mim mesmo. Não tem saída. Pés algemados. Quero me libertar dessa triste ilusão. Fujo. Não chego a lugar algum...
Silêncio! O medo toma conta de mim...
                              Jefferson Piaf

Pra declarar meu amor...






Quero provar desse amor que transborda de teu ser, e inunda as ruas em busca de meu coração... Esse amor ilumina e guia meus passos, torno-me criança novamente!
Quero o gosto do teu beijo doce, em meus lábios, como da primeira vez. Sonharei todas as noites com ele!
Quero sentir teu corpo sobre o meu corpo. Nossas peles serão uma, como em um sonho! Sonho este que nunca quero acordar.
Quero o tocar de tuas mãos como um artista que, com delicadeza, molda sua obra! Faz... Refaz... Desfaz... Ele busca a perfeição.
Quero tuas juras de amor eterno; sussurradas em meu ouvido. Juras únicas, feitas só para mim...
Quero compartilhar meus mais loucos planos contigo. Tu serás meu maior cúmplice!
Quero ouvir tua voz antes de dormir dizendo que me ama e que me quer para vida inteira... Eu serei teu e tu serás meu!
Viveremos em um mundo só nosso. Só há lugar para nosso amor. Seremos felizes no mundo construído por nós!
Quero sentir tua respiração ofegante... Somos almas afins! Impossível fugir disso. Estaremos unidos por toda eternidade.

                                  Jefferson Piaf

sábado, 29 de janeiro de 2011

Os dissabores do amor




Tudo voltou a ser como antes! O menino que começava a acreditar na existência do amor se sente traído.
Seu castelo de areia foi esmagado por um feroz gigante, e o que sobrou foi levado pelo mar... Sonhos, planos, felicidade. Tudo perdido!
Ele caiu outra vez no grande buraco da solidão! A amargura corrói seu frágil coração. Ele só queria ser feliz.
Maldito amor que se apresentou de forma benévola, e depois aniquilou qualquer resquício de esperança que habitava dentro de seu corpo!
Ele diz que nunca mais amará; Se fechará em seu mundo particular. Nesse mundo só há lugar para ele e mais ninguém! O medo volta a dominá-lo.
Sua alma de criança derrama a última gota de sangue... Não sobrará mais nada dele! Ah, O futuro... Não há presente, então não se pode pensar em futuro.
Tudo que há é angústia, amargura de ser enganado! Nunca mais veremos estampado em seu rosto o sorriso de quem está apaixonado.
Mais isso passa... Tudo na vida passa, e com o tempo aprende-se a superar as perdas! É só tristeza pela perda do primeiro amor.
Um dia ele acorda bem; pronto para amar outra vez, e tudo se repete. Deixe ele chorar; deixe ele sofrer; deixe ele se isolar... O sofrimento muito tem a ensinar aos que ainda gozam de boa idade.
                                      Jefferson Piaf

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Lembranças de uma mente vazia. Capítulo I, parte II

É deprimente vê-la em tal situação... Vencida pelo cansaço ela adormece e não vê quem entrou na sala.
Uma mulher loira; gorda; alta; aparentando cinquenta anos e vestida com uma bata branca empurra a grande porta de madeira. Nas mãos ela carrega uma bandeja de prata. Uma enfermeira, se bem que sua roupa está muito suja e velha para ser farda de tal profissão!
A “gigantona” fala algo que não se pode compreender. Idioma esquisito esse falado por aqui.
Ela aparenta mau humor.
A enfermeira continua falando; parece ser códigos. Ela olha indiferente para moça largada no chão. Essas paredes manchadas são de causar ânsias de vômitos. Mesmo com uma péssima iluminação, é possível enxergar alguns desenhos nas paredes... Mãos, manchas de sangue... Sangue velho!
Com seu linguajar indecifrável, ela se aproxima do corpo e injeta algumas seringas. Depois aperta firme o pulso da mulher e rosna algumas coisas...
Após a mulher loira sair da sala com seus passos aterrorizantes, entra um velho arrastando uma balde. Sem o mínimo de compaixão, pelo ser humano, ele despeja água fria no corpo ali jogado.
O que já estava difícil de entender agora está pior!
Ambos que passaram por aqui agiram como se não tivesse ninguém nessa sala. Parece que esta mulher, bem aqui deitada em condições alarmantes, está invisível. Eles pareceram estar acostumados a fazer isso.
A frieza com que eles agiram é de doer à alma de qualquer pessoa. A mulher continua largada no chão. Com muito frio ela começa a tremer... Sua respiração vai enfraquecendo aos poucos. As mãos dela começam a bater no chão como se tivesse afastando algo... Agora as mesmas mãos se chocam contra o corpo.
 Alucinação...
Ela quer falar algo... Suas expressões faciais são de medo. Ela simula estar fugindo de alguém...
Medo... Grito... Mãos espalmadas... Terror!
“Paulo, cuidado!”
Quem é Paulo? Por que ela chamou por esse homem?
Após chamar por esse nome, ela fica calma. Adormeceu outra vez. Não dá para entender de onde vem tanta força, pois, ela está sem comer a muitos dias... Tinha alguma coisa estranha naquelas seringas!



sábado, 22 de janeiro de 2011

Lembranças de uma mente vazia. Capítulo I. Parte I

Acordei com dor de cabeça.
Está tudo girando em minha frente.
Só o que vejo é uma sala úmida e pouco iluminada. Uma luz fraca e entrecortada vem do bocal velho do teto.
Tudo aqui cheira a mofo.
O estalar das gostas de água, caídas do teto, deixam minha cabeça pior!
Eu não sei onde estou.
Forço a mente para lembrar por que estou aqui, mas não me lembro de nada... É como se tivessem apagado minhas lembranças.
Tudo foi apagado: meu nome, minha história, minha vida... Fico aterrorizada! E pergunto-me por que fizeram isso comigo.
O que será que fiz? 
Em vão eu tento buscar respostas, dentro de mim, que não há.
Minha roupa está rasgada e com manchas de sangue. Deve ser meu sangue! O medo começa brotar em meu âmago quando começo a me dar conta que estou enclausurada.
Não há saída.
Quero fugir desse lugar, sair correndo... Impossível, estou impotente. Tento levantar-me, mas não sinto meu corpo, parece que cortaram minhas pernas. Meu corpo não obedece ao comando do meu cérebro. Acho que apagaram até minha capacidade de andar... Estou me conhecendo outra vez!
Minha visão ainda está turva, mas consigo ver uma porta a minha frente. Uma porta grande, e aparentemente muito segura. Ver essa porta despertou em mim à esperança de sair daqui. Conquanto, logo recordo que não consigo andar! Imerso, outra vez, no mar das desilusões.
Mas eu posso gritar! Mesmo achando impossível que alguém me escute, eu tento gritar... Minha voz não sai! Penso que é o meu nervosismo travando o mecanismo da minha fala. Descanso um pouco e recomeço as tentativas de gritar.  Frustração. Não consigo falar. Roubaram-me o direito de expressão! Malditas pessoas que fizeram isso.
Será que isso é real? Sim, pode ser um sonho! Muitos sonhos se aproximam da realidade... Eu devo estar sonhando, em breve acordarei e saberei quem sou. Eu queria mesmo que fosse só um sonho triste, porém, com o passar do tempo tenho a convicção de que é tudo verdade.
Mergulho em um rio de lágrimas... Não dá para controlá-las! Tento abstrair meus pensamentos para não pensar no pior... Morte!
Não paro de pensar o que irá acontecer comigo. Se eu ficar aqui nessas condições, eu morrerei. Mas estou inerte, impediram-me de tudo! Fecho os olhos na esperança de lembrar alguma coisa... Nada vem a minha mente. Nenhuma pista sobre minha história. Tudo que sei de mim é que sou uma mulher que não anda, não fala e não tem memória.
Passos... Ruídos.
Parece que alguém está empurrando algo muito pesado! Mas onde?  Não sei responder...
Em seguida, silêncio! Nada além de minha respiração eu posso ouvir. Choro novamente! Não tenho noção alguma de tempo, a solidão começa a destruir meus neurônios. Meu psicológico está em curto-circuito.
Meu coração está acelerado, as lágrimas não cessam...
Imagens bizarras passam em minha cabeça! É o efeito de ficar muito tempo em uma sala inóspita. As alucinações persistem em me perturbar! Sinto uma enorme triste, mas não entregarei os pontos...
Ainda há, lá no fundo, a esperança de que eu sobreviverei a tudo isso! Tenho dentro de mim a fé na ilusão de que tudo não passa de uma triste experiência. Um triste engano. Em breve eu serei salva.
Os passos voltam e dessa vez sem barulho de arrastado. Alguém parece caminhar. Passos firme; devem pertencer a uma pessoa resoluta, autoritária. Cada passo que escuto é um tiro em meu peito. O som deles me causa medo. Medo do que pode me acontecer.
 Os passos se aproximam e eu vou enfraquecendo. Tento lutar para ficar acordada e ver quem entrará, mas não aguento...

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A desilusão do poeta




Não há mais dia. Só há incerteza!
O sol transformou-se numa grande bola cinza que se dissolve, aos poucos, tingindo o céu que um dia foi azul!
Os pássaros calaram-se para sempre... Nada é como antes!
O mundo não será mais o mesmo sem as ilusões do poeta!
O menino sonhador está adormecido; envolto a tristeza!
Ele já não vê mais sentido em sua existência... A solidão ecoa voraz dentro de seu coração!
Só há ruínas onde outrora havia a alma de um jovem que sonhava com a liberdade, igualdade e fraternidade para todos.
Árvores decrépitas abrem caminho para o triste senhor das letras...
 Todos o saúdam com melancolia... Ainda tem os que comentam que ele tinha uma brilhante carreira como poeta, mas o destino pregou-lhe o infortúnio da desilusão.
Os versos que expressavam alegria, felicidade... Versos que exaltavam a beleza da natureza; da mulher; da vida, dão lugar aos versos ásperos...
Não há nada a se fazer!
Se até o poeta, que é o mais sonhador de todos os seres, já não sonha; o que direi de nós, insensíveis mortais?

                                     Jefferson Piaf

*Texto dedicado a meu grande amigo PAULO HENRIQUE FONSECA.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Querida Ana, tenho pensado muito em minha vida nos últimos tempos. Essa triste doença tem ceifado minhas forças mais e mais. Resolvi escrever-te essa carta antes que seja tarde. O tempo que tenho passado aqui no asilo tem sido muito importante para mim. A solidão tem me ensinado muitas coisas. Ela tem me mostrado o quanto é ruim ser abandonado por todos! Mas eu caí no buraco cavado por mim mesmo.
Parece que foi ontem que éramos jovens. Lembras? Éramos dois loucos, Ana. Sinto muita falta de nossa juventude, de nossa geração. Hoje eu percebo quão feliz eu era ao teu lado. Tarde demais pra sentir tua falta; teus conselhos, assim como de tuas reclamações.
A vida é uma peça em três atos, minha jovem Ana. O primeiro ato é a infância. Época de descobertas! Lembro de minha infância com um gosto de terra; de vento; de sonhos... Corríamos desesperadamente pelas ruas de nosso bairro. Eu só pensava em brincar e em ser eternamente criança.
Mas o primeiro ato se vai e junto a ele os sonhos de menino. A adolescência inicia o segundo ato. Eu fui um adolescente muito rebelde, espero que nossos filhos não tenham muito de mim na adolescência!  Naquele tempo minha vida se resumia a Rock in Roll. Minha mãe ficava louca comigo! Meu pai dizia que era coisa de adolescente. Eu só estava vivendo uma pequena fase... Ele só errou quanto à pequena!
Lembras de quando nos conhecemos naquele show?  Nossos amigos nos juntaram. Eu era o “porra-louca”, e você era a politicamente correta. Você foi a mulher que mais amei, porém, eu fui um estúpido-como em toda minha vida- com você... Minha irresponsabilidade afastou-me de ti. Guardo em meu peito até hoje uma tristeza por tudo que te fiz.  Infelizmente a ciência não avançou ao ponto de criar uma máquina de voltar no tempo, como nos filmes. Se essa máquina existisse eu queria uma para mim. Voltaria ao passado e concertaria toda minha vida.
A vida adulta chegou e eu continuava o mesmo adolescente rebelde! Sofro muito quando me remeto até meu passado e Lembro-me das oportunidades que não aproveitei. Sofro em recordar os amigos que perdi por causa de meus vícios...
Continuando a falar sobre os três atos que formam a vida... Prometo que serei breve, não quero e não tenho o direito de atrapalhar mais tua vida com minhas lamentações de velho. O segundo ato acaba com a chegada da velhice. O terceiro ato parece o fim. Pode até ser para algumas pessoas! Para outras é só o começo de muitas coisas boas... É uma lástima que eu não posso fazer parte destas.  Meu terceiro ato se resume a uma cama, e a um monte de remédios; eles que me mantêm vivo. Sinto muita falta do meu espírito de menino sonhador, não sei o que se fez dele! Não há tempo para lamentações, minha querida Ana.
Sei que tu não estás a entender nada. Realmente, é muito estranho eu escrevendo para ti. Como disse no começo da carta, eu tenho pensado muito em minha vida, e por isso resolvi escrever. Resta-me pouco tempo aqui na Terra, e não quero morrer sem pedir-te perdão por tudo que te fiz. Peço-te que me perdoes com esse teu coração doce e bondoso. Por favor, Ana, não guardes nenhuma mágoa do passado. É difícil perdoar, principalmente quando alguém nos fez sofrer, eu tenho plena consciência que te fiz muito mal, mas insisto que me perdoes... Peço também outra coisa: por favor, não venhas me visitar! Não quero que me vejas nesse estado, com esse corpo hermético!
Vou ficando por aqui minha doce Ana. Fico com a lembrança dos momentos bons de minha vida e todos os momentos que estive ao teu lado.

                                                                    Paulo César.


                                                                       Por: Jefferson Piaf

Da janela do meu quarto




Da janela do meu quarto eu vejo crianças a brincar, a pular... Meninos com sorrisos largos no rosto.
Vejo senhoras a conversar; lamentam-se por outrora, pela juventude passada!
Da janela do meu quarto eu vejo moças apaixonadas. Moças sonhadoras... São meninas despertando para vida!
Da janela do meu quarto eu vejo casais de namorados a passear; contemplam a imensidão do céu azul... Rapazes que amam com toda força de sua juventude!
Da janela do meu quarto eu vejo Dalí com todo seu surrealismo! Pulam elefantes gigantes; voam borboletas... O abstrato se transforma no bizarro! É devaneio de um aprendiz de poeta.
Da janela do meu quarto só não vejo meu amor. Não sei onde ele está agora; não sei o que se fez dele!
Fecho os olhos, por alguns minutos, e vejo meu amor passar pela janela do meu quarto com seu sorriso de menino enamorado!
Da janela do meu quarto eu sonho, eu sofro, eu brinco, eu choro... Eu vejo a vida passar.
Da janela do meu quarto eu espero meu amor chegar.
                                  
                                                 Jefferson Piaf

domingo, 2 de janeiro de 2011

Saudade...






Saudade dos tempos de criança, eu era feliz e nem sabia!
Saudade das brincadeiras nas férias! Naquele tempo só tínhamos uma responsabilidade: Sonhar.
Saudade de quando minha avó banhava-me no tanque velho lá de casa. Saudade de quando ela se esquecia de ir me buscar na escola!
Saudade de correr pelo campo, de brincar de pique - esconde, de jogar bola de gude...
Saudade das tardes que passávamos deitados na calçada da casa da esquina a fazer nada, a sentir o vento.
Saudade das traquinagens de menino!
Saudade dos gritos de minha mãe a chamar-me para almoçar!
Saudade da infância, da inocência... Naqueles tempos era possível ser criança.
Saudade das guerras de barro na época da pavimentação de nossa rua.
Saudade de meus amigos dos tempos de criança... Eles se foram junto à infância!
Saudade do primeiro dia na escola... Saudade das tias do primário.
Saudade das palavras obscenas aprendidas no colégio!
Saudade do tempo que queríamos ser tudo e ao mesmo tempo nada! Professor, médico, advogado, engenheiro, arquiteto...
Saudade de brincar de viajar o mundo! Uma cidade por dia: Paris, Madri, Lisboa, Bruxelas, Roma, Tóquio...
Saudade do primeiro beijo! Saudade do primeiro amor... Saudade de amar!
Saudade... Saudade... Saudade... Saudade... Tudo se resume a essa palavra!
                                Jefferson Piaf

A carnificina do amor



Não quero amar, não quero o amor... Não esse amor malévolo que nos torna escravos seu.
Quero o doce amor do poeta pela vida. O amor do inocente poeta pelo mundo.
O amor jovial que nos deixa longas noites sem dormir pensando na pessoa amada.
Não quero o amor doentio, irracional. Esse falso amor que destrói nossos corpos como vermes sedentos por destroços.
Quero o amor pulsante, o amor que nos deixa sensíveis o suficiente para contemplar o desabrochar da mais linda flor do dia.
Quero o amor de Picasso por sua arte. Amor este que o sugou por completo até a morte.
Mas o amor não existe... O amor só existe nos versos. Só nos poemas o amor é perfeito, imaculado. Na vida real só há o amor feio, sofrido, lânguido. Esse amor eu não quero!
Vou embora sem destino... Não há porquê ficar aqui, não há porquê sonhar com o amor. Ele não passa de uma ilusão de menino.
Vou embora, e quero como companheiras a solidão e a desilusão de um amor. Farei de minha casa esse mundo sem fim... Farei do vento minha dança eterna. Nada me prende aqui. Não tenho mais amor, não tenho mais vida.
Eu quero ver o mar...
                               Jefferson Piaf

sábado, 1 de janeiro de 2011

O homem e a Ilha




Em uma noite chuvosa um navio que se dirigia ao norte naufragou, e só um jovem salvou-se. Não se sabe como aquele rapaz conseguiu sobreviver. Ele foi arrastado pelo mar até uma ilha distante; acordou com as ondas a banhar-lhe o rosto.
O rapaz estava confuso, mas aos poucos foi lembrando-se do ocorrido. Poucas lembranças. Ao longe ele avistou uma floresta, e perto dela havia uma cabana. O jovem seguiu em direção àquele casebre de palha. Mesmo com muita dor de cabeça e muita tontura ele conseguiu chegar até lá.
A cabana aparentava estar abandonada, entretanto, por dentro ela estava em perfeita ordem. Alguém deve ter passado há pouco tempo por ali. O rapaz ficou feliz por achar abrigo nas circunstâncias que se encontrava. Com muito sacrifício ele fez uma pequena fogueira para se aquecer, e ainda tinha algumas frutas dentro de uma cesta.
Aos arredores daquele abrigo havia muitas árvores com frutas diversas. O tempo foi passando e o jovem já estava acostumado àquela ilha, ele não se preocupava mais em sair de lá. Naquele lugar ele tinha tudo que precisava: muitas frutas; água de coco em abundância; um lugar para dormir... O homem nunca se preocupou em saber o que tinha por trás da floresta, pois tudo que ele precisava estava ao alcance. Não tinha porquê sair explorando o desconhecido sem necessidade.
O homem envelheceu ali naquela ilha, naquele mesmo lugar perto da praia. Após trinta anos de claustro ele morreu. Não se sabe até hoje a causa da morte, deve ter sido velhice, solidão... O velho morreu sem saber que depois daquela floresta existia uma grande cidade. Ele só precisava seguir uma trilha. Mas ele teve tudo que uma pessoa necessita para viver. Explorar aquela floresta seria cansativo, ele ficaria doente e poderia ser mordido por algum bicho. O inocente homem passou trinta anos tão longe e tão perto do mundo.

                                Jefferson Piaf