sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Bem-vindos ao circo meus queridos!

E o que nos falta acontecer agora? Espero que mais nada. 2010 foi um ano de grandes novidades na política brasileira. O que chamou a atenção, dessa vez, não foram os desvios de dinheiro público, já que isto é comum quando o assunto é Brasil. O interessante foi o circo gratuito que eles promoveram. É aumento de salário para deputado, tiririca entrando no legislativo... Enfim, um verdadeiro picadeiro. E a plateia somos nós que pagamos tudo.
Recentemente foi aprovado o aumento salarial para deputados federais, senadores, presidente da república e ministros. Os políticos merecem um reajuste, sim; pois eles representam uma nação e necessitam ganhar bem. Além do mais, se eles têm uma boa remuneração não terão motivos para se envolverem com as famosas propinas. O problema está no cinismo de muitos deputados que alegam ganhar pouco, e ainda tem os que dizem que é impossível um deputado viver com uma renda mensal de sete mil reais.
Se eles reclamam pelo que ganham (sete mil reais), imagina quem ganha um salário mínimo.  E o que dizem os idosos que com um salário mínimo de quinhentos e dez reais têm que passar o mês, e ainda gastam com remédios; pois sempre falta medicamento nos postos de saúde? O salário mínimo vai sofrer reajuste, isso é verdade. O reajuste será de trinta reais. O valor que atualmente é de R$ 510,00 a partir do próximo ano será de R$ 540,00, muita diferença! Esse mísero aumento é só um cala boca no povo.
A velocidade com que foi dado o aumento aos nossos queridos políticos, que muito trabalham a nosso favor, chega a ser uma afronta ao povo brasileiro. Assim que chegou à câmara a petição foi logo votada e venceu. Só 35 deputados foram contra esse aumento, prova que ainda existem políticos comprometidos. Problemas mais urgentes estão na assembleia legislativa e não são resolvidos. O povo só é ouvido quando faz greve, e muitas vezes são reprimidos como vem acontecendo com a classe dos professores que todos os anos lutam por reajuste salarial e condições trabalhistas melhores.
O deputado eleito Francisco Everardo Oliveira Silva, o tiririca, foi muito criticado pela impresa. Porém, o humorista não é culpado por ter sido eleito, mas sim o povo que o elegeu. Se é que podemos falar em culpa nesse caso. Em minha opnião, a vitória do tiririca foi o protesto de um povo saturado de falsas promesas e de injustiça. Se Brasília é um circo, qual o problema de mais um palhaço lá dentro? A diferença entre tiririca e os demais políticos é que o primeiro é um palhaço assumido, já os outros são palhaços enrustidos que raramente aparecem para trabalhar.
Que nos anos vindouros vocês possam pensar em quem irão votar. Pois, se continuarmos a eleger esses palhaços consagrados o circo vai crescer e ficar mais caro para o nosso bloso. Por que no fim das contas quem arca com os gastos é a plateia, o circo prestando ou não.
                            Por: Jefferson Piaf.

sábado, 18 de dezembro de 2010

A festa na casa dos de Souza.



Dia de animação na favela. Festa na casa dos de Souza; os que têm condição financeira melhor de toda favela. As pessoas já acordam no ritmo da festa. Os de Souza não precisam de razão para comemorar. Por qualquer coisa eles dão uma festa. Se nasce alguém, festa. Se o menino mais novo perde o primeiro dente, festa. Se a menina caiu, festa...
A mulherada da favela lota o salão de dona Carminha. É uma correria danada! Dona Carminha fica doida quando tem festa na casa dos de Souza. Todo mundo quer estar bonito. Essa alegria toda não é só por causa da bebida e da comida em abundancia. Sempre tem uma confusão quando se trata de festa na casa dos de Souza. Na última festa teve gente que saiu de ambulância. E o pior que nunca se sabe o porquê das brigas. Só se sabe de uma coisa: festa na casa dos de Souza que termina sem briga não é festa!
As festas sempre começam no fim da tarde. É um sobe e desce descomunal em direção a tal casa onde acontece a festa. Tudo começa tranqüilo. Todos dançando; brincando; bebendo. Uma coisa linda a festa na casa dos de Souza; é de dar inveja a qualquer bacana. Mulheres, bêbadas, agarradas a seus homens, dançando o brega do momento. É um bacanal sem fim. Todo mundo dançando com todo mundo. Deixa o povo ser feliz, é só uma vez.
As horas vão passando e nada da bendita confusão. As pessoas começam a olhar o relógio com impaciência. Dona pretinha já não aguenta mais ficar acordada esperando a briga:
- Eu vou embora, tô vendo que hoje não sai briga! Perdi minha noite de sono. - diz a velha irritada.
- Deixe de coisa pretinha! Já não tarda a começar o barulho. Vem cá minha velha, tome mais um copinho de cerveja. Aproveite que hoje é de graça.  – Aconselhava dona Joana.
- Olha lá dona Carminha, a Kelly no maior sarro com Vadinho. – Dona Joana já estava de plantão.
- Mas olha só Joana, e depois essa coisa diz que é crente. E ainda vem falar de Jesus, e ela lá sabe nada de Jesus. – ajudava dona carminha na fofoca.
- Olhe quem está ali Sônia, Edmilson. Ele já pagou o que lhe deve minha amiga?
- Pagou nada Joana.
- E você vai deixar assim é? Deixe de ser boba e vá cobrar!-Eita Joana fofoqueira; passava a festa toda bebendo e falando mal dos outros. Não dava descanso a ninguém.
- Mas eu vou é agora. Já já eu volto.
- Você não tem nada mais importante, do que olhar a vida dos outros, pra fazer não Joana? – Gritou Rita da mesa.
- E desde quando eu lhe devo explicações. Tome conta da sua vida. Ah senhor, que mulher atrevida.
- Atrevida é você, fofoqueira do cão!
- E vocês duas podem parar com essa putaria? – gritou mais alto, dona Carminha.
A festa continuava com tudo. Mas nada de briga, nem uma briguinha boba. Quando todos estavam desesperançados, a confusão começou. Duas mulheres- dos de Souza- estavam agarradas. O maior puxa-puxa de cabelo. O menino, ao ver sua mãe no meio da briga, pulou no cabelo da outra mulher:
- Solte minha mãe sua cão gorda! Aaaaaaaaaaaaaaah.                 
Todo mundo pôs a correr. O diabo do menino era tão ruim que ninguém conseguia puxar a peste. Foram dois homens para tirar o cão mirim de cima dos cabelos da tia. Quando conseguiram tirar o projeto de satanás, ele veio com o aplique da tia nas mãos. Pobre da dona Carminha; passou o dia todo para colocar o mega hair e a peste do menino tirou em alguns minutos.
A confusão foi aumentando. Parecia mais um furacão; puxava quem estava passando por perto. Todo mundo batia e todo mundo apanhava. Parecia mais fim de jogo na Ilha do retiro entre Sport e santa cruz. Nessas horas dona pretinha já estava roncando:
- Dona pretinha! Acorde nega. Olha a confusão. Corra se não você é arrastada! – gritou uma mulher, que no meio da confusão não se sabe quem era.
Dona pretinha levantou-se sem saber onde estava. Por via das dúvidas colocou a mão na boca para não perder a prótese dentária outra vez.
A matriarca da família de Souza era muito Esperta. Só ela conseguia acabar com aquela barulhada:
- Ai meu Deus, eu vou morrer! Tô com gosto de sangue na boca! Minha pressão tá subindo. – gritava a velha fingindo desmaio.
- Mããããããe! Se minha mãe morrer eu mato você, seu infeliz! – disse umas das filhas ao marido.
- Para essa confusão. Eu vou morrer; meu coração tá parando. Eu vou ter um AVC.
No mesmo instante a confusão parou. Era uma atriz essa mulher! Desligou-se o som; as pessoas retornaram as suas casas. Todos estavam felizes, pois tinham ido a uma festa na casa dos de Souza, e com direito a confusão. E dessa vez ninguém foi pra casa de ambulância, uma pena!

                                       Jefferson Piaf

Apenas viva!






E o menino que era tão seguro, agora está perdido. Bruno. “Da próxima vez eu seleciono melhor as pessoas que chamarei de AMIGOS!”-pensou o jovem no caminho de casa. Bruno estava muito confuso com os últimos acontecimentos. Ele sempre foi o certinho da turma, o mais responsável. Em menos de uma semana sua vida tinha mudado completamente. Até ontem ele achava que era besteira; com o tempo iria esquecer. Hoje, ele tinha dúvidas sobre sua sexualidade.
Bruno sempre foi um menino tímido, por isso não teve muitos amigos. Desde criança sentia atração por meninos, na cabeça dele era coisa de criança. Porém, esses sentimentos foram crescendo com o tempo, e nas últimas semanas estavam piores. Bruno estava muito triste com isso; sua vontade era reprimir esses desejos, pois ele tinha medo do preconceito. Todas as tentativas foram frustradas. As pessoas começaram a perceber que algo de errado estava acontecendo com ele. Bruno estava sempre reservado, pensativo. Nem nas aulas de português, que ele adorava, ele interagia. Até em casa ele estava estranho, não fazia as refeições com frequência, e só falava o necessário.
Na tentativa de obter ajuda, bruno confidenciou a Augusto - um colega de classe- seu drama interior. Bruno dissera ao amigo que estava em dúvida; achava que era gay e não sabia o que fazer. Augusto prometeu segredo, porém, as pessoas mentem. No outro dia todos sabiam que bruno era gay. O menino não entendia por que todas as pessoas o olhavam enquanto ele caminhava até sua sala. Ele não precisou de muito tempo para chegar a uma conclusão óbvia. Bruno agora estava com o dobro de problemas. Ele tinha vontade de chorar e sair correndo daquele lugar, conquanto, se ele o fizesse seria pior; um dia ele teria que encarar as pessoas de qualquer jeito.
Foi a pior manhã da vida de Bruno; seus companheiros de turma o olhavam da forma mais horrível que podiam. Bruno se sentia um alienígena. O tempo não era seu amigo. Os ponteiros pareciam que estavam parados. Quanto mais ele queria que acabasse logo aquela aula, mais demorava. Bruno voltou triste para casa. Quando chegou, foi correndo para o quarto; estava tão triste que não viu sua mãe na sala. Laura percebeu que algo tinha acontecido com o menino, pois, ele nunca tinha chegado como um furacão. Imediatamente ela foi ao quarto de Bruno:
- Bruno? Posso entrar?
-Oi mãe. Pode sim.
- Aconteceu alguma coisa meu filho?
- Não mãe. Tudo bem.
- Não está tudo bem, bruno. Você sabe que não está! Você nunca chegou a casa como chegou hoje. Há uns dias que percebo seu comportamento estranho.
- Não sou muito bom em disfarces, né?
- Sim. E mesmo que fosse, toda mãe conhece seu filho. Eu já imagino o que lhe tem acontecido.
- Eu estou com vergonha mãe, mas eu preciso conversar com alguém. - dizia bruno deitado no colo da mãe.
- Você sabe que pode confiar em mim, meu filho.
- Mãe, eu acho que sou gay. E todos na escola já sabem. Eles me olharam hoje de uma forma tão ruim, mãe. Senti-me muito mal com tudo. Se eu pudesse escolher, preferia não ter nascido assim. Eu estou muito confuso com tudo.
- Fique calmo, meu filho. Eu sempre soube disse, só estava esperando a hora que você iria contar-me. – falava Laura enquanto alisava a cabeça dele.
- Como assim você sempre soube?
- Como eu lhe disse, toda mãe conhece seu filho.
Laura levantou da cama e foi até a janela, pensativa:
- Bruno, venha até aqui. Olhe lá em baixo, a bolhinha com seus filhotes.
- O que têm eles mãe?
- Olhe bruno! Responda-me: Eles são iguais?
- Não mãe. Um é preto, outro branco e ainda tem um que é todo pintado.
- Mas eles são infelizes por causa disso? Bolinha rejeitou-os por não serem iguais?
- Não, ela ama todos igualmente. E eles não parecem infelizes.
- Então não se sinta infeliz por ser diferente, meu filho. As pessoas terão que gostar de você bem do jeito que você é Bruno. Pare de confusão e seja feliz, meu bem. Não perca tempo se perguntando por que você nasceu assim ou escolhendo como queria nascer. Apenas viva! Aproveite sua vida. – Laura beijou a cabeça do filho e saiu.
Quando sua mãe saiu, bruno trancou-se no quarto e dançou sua música favorita: Elephant Gun, de Beirut.
“Farei de minha vida uma dança eterna...”- Gritou bem alto.


                                          Jefferson Piaf

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Mate um gay por dia e garanta seu lugar no céu!

E o assunto de hoje? Homofobia. Está na moda agredir gays. O motivo para essas agressões? Por que homossexuais não prestam; devemos exterminá-los do mundo. Deus fez o homem para mulher, e a mulher para o homem. É assim que pensam os agressores. O que me irrita mais é essa falsa religiosidade mostrada pelas pessoas. É com muita indignação que tenho acompanhado os casos de homofobia que tem acontecido na cidade de São Paulo. Justamente a cidade que é responsável por uma das maiores paradas pela diversidade do mundo.
A intolerância é algo inerente a história das sociedades. Pode parecer pessimismo, de minha parte, usar a palavra inerente; mas eu não consigo encontrar outra palavra para expressar o que penso.  Na Grécia antiga, o adolescente passava um período de sua vida ligado a um mestre, este se encarregaria de ensiná-lo tudo sobre a vida adulta. Prática homossexual era componente desse currículo. Porém, se o jovem apresentava comportamento passivo após a adolescência; era recriminado pela sociedade. A sociedade que incentivava era a mesma que discriminava. Na Roma antiga não era muito diferente.
Será que temos o direito de julgar e agredir uma pessoa por que ela pensa diferente de nós? Será que Deus odeia os gays, como prega - indiretamente- a maioria das religiões? Não é minha intenção por em xeque a existência de Deus ou por em xeque o que ele pensa. Eu só não acredito nesse Deus malévolo que é pregado por muitos. Se Deus, de fato, odiasse os homossexuais não os teria feito. Deus ama a todos por igual. Não vejo pecado algum em ser feliz. É muito fácil dizer o que é certo ou o que é errado quando estamos na plateia.
Se as pessoas soubessem a consequência desastrosa que o preconceito gera, nunca o cometeriam. Muitos gays vivem com seus sentimentos reprimidos com medo de enfrentar essa sociedade, aparentemente perfeita, que vivemos. Alguns chegam a se casar e ter uma vida exemplar por fora, mas por dentro estão completamente infelizes. Pesquisas mostram que o índice de analfabetismo entre travestis é alarmante. Os travestis não vão à escola por que não gostam de estudar e são preguiçosos? Não. Muitos não chegam a concluir o colegial por que não aguentam todos os dias serem motivos de risadas; de piadas de mau gosto; de serem apontados como aberrações; de serem chamados de “bichinha, frango...”
Pior que o preconceito é o fingimento. Certo dia a professora de sociologia fez um debate sobre a parada pela diversidade do Recife. O comentário de uma colega de classe chamou muito minha atenção. Ela disse que detestava os gays, que não se sentiam bem estar perto de um gay, e que a parada pela diversidade deveria ser proibida. A princípio eu não quis acreditar nas palavras proferidas por minha colega. Algum tempo depois a mesma colega disse que não se juntava com lésbicas, por que-segundo ela- quem se junta com porcos, farelo come. Logo ela que era muito amiga de dois meninos, gays, que estudavam conosco; e até tinha certo grau de amizade comigo. Ela também deve ter esquecido que sua melhor amiga é lésbica! Foi risível presenciar aquele comentário. Um dia eu encontrei essa mesma menina acompanhada de um amigo extremamente gay. Chego à conclusão que a hipocrisia não é problema de caráter, e sim problema genético.
Enquanto existir o sentimento de superioridade entre os seres humanos, será impossível combater qualquer tipo de preconceito. Cada dia que passa eu tenho mais nojo do ser humano. Mas não podemos nos acomodar. I have a dream... Um dia haverá respeito na sociedade.
                             Por: Jefferson Piaf




quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Júlia. Nunca é tarde para amar.(capítulo XV)

O que vem depois do fim?
                                 (Heureux, heureux à en mourir.)

 

  Um ano que nós estamos morando na Europa. Há dois meses Octávio foi transferido para uma filial em Paris. Ficamos muito felizes com a transferência. Sempre sonhamos em morar aqui. Uma cidade linda, cheia de cores, de alegria. A cidade luz.
 Descobri que estou grávida de quatro meses. Trigêmeos, sempre sonhei em ser mãe, e Deus me agraciou com três! Estamos todos ansiosos com a chegada dos bebês. Um menino e duas meninas. Théo, Maria Júlia- Octávio que escolheu- e Sophia. Meus três amores, ou melhor, quatro com meu pequeno Vittorio, que está muito feliz com a chegada dos irmãos.
  Francy está trabalhando em um estudo arqueológico na Amazônia. Encontraram fósseis humanos, de eras remotas, por lá. Ela está casada há cinco meses com Arthur e já esperam um bebê. Ana Luisa. Ela me prometeu que, depois do nascimento de Ana Luisa, me faria uma visita.
  Genny está morando na África. Ela foi convidada por uma ONG para trabalhar em um projeto de erradicação ao analfabetismo daquele continente. Em uma das viagens, desse projeto, ela conheceu John, um espanhol que é responsável pela unidade da ONG em angola. Eles estão apaixonados! Tudo acontece no tempo certo. Tudo acontece quando estamos maduros o suficiente para viver.
  A única que não sofreu alguma mudança significativa ao longo desse um ano foi dona Andréia. Continua a mesma de antes. O contato com Octávio ficou raro. Sempre que ele liga para falar com ela, ela vem com a mesma história, que foi um erro ele casar comigo. Para não ficar aborrecido, ele evita ligar para mãe. Hoje, ela mora só em um apartamento na beira mar de Boa Viagem. Seu Júlio separou-se dela há três meses. Fico triste por toda essa situação, mas ela mesma que buscou. Genny me disse que ela está transtornada com a separação, entrou em depressão e vive a base de calmantes. Do fundo de meu coração espero que ela se recupere, e resgate a vida toda que perdeu!

  É assim que termina a história da minha vida!
 Não somos perfeitos, mas somos felizes!
 Mesmo a vida com tantos momentos difíceis, vale a pena viver!    Vale à pena amar!
                            

                                 Nunca é tarde!


                                        Fim

                                Jefferson Piaf

Júlia. Nunca é tarde para amar.(capítulo XIV)

                                 A viajem...
           (como em um conto de fadas: final feliz para os bons)

  
Chegou o dia da viajem de Octávio. Francy me ligou bem cedo, para me chatear. Ela estava aborrecida por eu não ter ido procurar Octávio. Agora o amor da minha vida estava indo embora e eu não fiz nada! Eu não contei nada a ela sobre a visita de Octávio, e ele não contou nada a Genny. Francy não desiste fácil. Ligou-me pela décima vez, falo sem mentiras:
- Oi Francy.
- Júlia, você tem certeza que não vai ao aeroporto? – ela falou enfurecida.
- De novo você com isso. Eu já falei que não vou a lugar algum, que droga!
- Você vai deixar o amor da sua vida ir embora Júlia?
- Vou. Problema dele. Boa sorte para ele!
- Deixe de ser covarde, por favor, venha! Venha como amiga.
- Eu já disse que não quero. Não insista.
- Está bem, você é quem sabe. Depois não se lamente de tê-lo perdido. Você vai morrer sozinha!
- Que morra! Melhor sozinha do que mal acompanhada!
- Tchau Júlia! Está impossível falar com você!
- Tchau Francy, pela Décima vez!
   Desliguei o celular para não ser incomodada novamente por ela. Eu tinha um monte de coisa para organizar, não podia perder tempo com as besteiras de Francy.
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O vôo estava marcado para 16hrs. Todos já estavam presentes. Octávio estava impaciente:
- Voo 174, com destino a Londres, embarque no portão dois D.     
- Meu filho, é seu voo.
- Ainda não mamãe. Está faltando algo.
- Como assim?
- Você saberá em breve. – Genny e Francy se olham sem entender o porquê de todo aquele mistério que Octávio fazia.
  Ele já tinha se despedido de todos, estava com um ar de tristeza, parecia que tinha se decepcionado com alguém. Perto do embarque, todo o aeroporto presenciou aquela cena inédita:
- Octávio! Espere-me... - vinha Júlia, juntamente com Ana, repletas de malas.
- O que ela está fazendo aqui Octávio? – Bradou a dama de ferro furiosa.
- Ela é quem faltava mamãe. – Júlia se aproximava. Beijou levemente os lábios de Octávio.
- Desculpa a demora meu amor. Um pequeno engarrafamento nos atrasou.
- Júlia, você me enganou! – Falou Francy aos risos.
- Você também me enganou Tavinho! – completou Genny.
- Aprendi a fazer surpresa com você mesma Francy. Eu combinei com Octávio que não contaríamos nada a vocês.
- Eu não acredito nisso Octávio. Como você pode fazer isso com sua mãe! – gritou dona Andréia.
- Mamãe, eu já sou bem grandinho para senhora dizer o que eu devo fazer. Seu filho cresceu, e já é um homem. Aaaah... Assim que chegarmos a Londres, irei me casar com Júlia!
- Mas Octávio... – Genny não deixou que ela completasse a frase.
- Nem meio mais mamãe! Deixe o Tavinho ser feliz!
- Não se destrói um amor verdadeiro dona Andréia. – disse Francy, feliz da vida.
  Dona Andréia não resistiu a tanta coisa acontecendo ao mesmo tempo. Desmaiou:
- Calma mamãe, está tudo bem!
- Está tudo bem nada meu filho, você não pode casar com essa aí...
- Essa aí é minha esposa mamãe, a senhora querendo ou não eu irei casar com ela.
- Eu te perdoo dona Andréia. Pode ter certeza que não tenho nada contra a senhora, pelo contrário, espero que um dia possamos viver em comunhão.
- Júlia, Octávio, vocês irão perder o vôo, já estão passando da hora.
- bem lembrado Ana. Vamos Octávio.
  Após uma rápida despedida das pessoas, entramos emocionados no avião. Até o pequeno Vittorio chorou, sem nem saber por que. Senti-me em uma nova vida. Um novo capítulo estava se iniciando. Estávamos começando do zero. Quando aquele avião pousasse sairiam dele uma nova Júlia e um novo Octávio. Um novo horizonte se abria.

Júlia. Nunca é tarde para amar.(capítulo XIII)

Um encontro decisivo...
                                      (A Vida é bela!)
 
  Genny ficou tão assustada quanto eu. Mesmo conhecendo a capacidade da mãe, ela não esperava que dona Andréia fosse tão baixo. Quando chegou em casa, Genny foi diretamente à procura de dona Andréia:
- Boa tarde Marisa. Minha mãe está em casa?
- Boa tarde dona Genny. A dona Andréia está no quarto, ela chegou com dor de cabeça e foi deitar. Disse que não quer ser incomodada.
- Muito obrigada Marisa. Mas ela vai ser incomodada!
- Olha lá dona Genny! Depois ela briga comigo.
- Fique tranquila, ela não irá reclamar com você.
  Genny subiu eufórica pelas escadas. O quarto ficava no fim do corredor. Por mais que estivesse irritada, Genny não podia ser agressiva com sua mãe. Com calma é que se resolveriam as coisas. Quando chegou à porta do quarto, estava tão nervosa que não bateu na porta:
- Mamãe? –Silêncio. Dona Andréia estava deitada com sua máscara no rosto.
- Mamãe, eu sei que a senhora está acordada. Precisamos conversar. – Dona Andréia tirou a máscara do rosto e olhou para Genny com estranheza, afinal eram raras as vezes que elas conversavam.
- O que foi minha filha? Parece que você viu fantasma.
- Pior que isso mãe. A senhora sabe por que Júlia abandonou o Tavinho?
- Ai Genny! Já vem você com essa estória. Isso é passado minha filha. Pare de se meter na vida do seu irmão, e vá tratar de conseguir um marido.
- Não precisa responder mãe. A senhora sabe muito bem por que Júlia foi embora sem explicar nada a ele.
- Eu não sei de nada. Tudo o que eu sei é que aquela vigarista iludiu seu irmão, e o abandonou por que deve ter aparecido outro mais rico e mais besta que ele.
- Deixe de fingimento mãe! A senhora que armou tudo isso. Fez a carta em nome de Tavinho, colocou as fotos de Maria clara. E aposto como tem participação sua na ida de Júlia à Europa.
- Não sei de estória nenhuma de carta! Você está ficando louca minha filha! Deixe seu irmão em paz.
- A senhora que não o deixa em paz, nunca o deixou ser ele mesmo! Sempre ele teve que fazer o que a senhora quer. Tavinho está infeliz e a senhora não vê isso por que só está interessada em dinheiro!
- Seu irmão é muito feliz, sim. Casou com uma mulher linda, da mesma classe social que ele, e tem um filho maravilhoso.
- Ele nunca foi feliz com Maria Clara. Pergunte a ele. A senhora destruiu a vida de seu próprio filho quando o afastou de Júlia.
- Ela nunca amou Octávio, Genny. Deixe de ser boba e pare de defender aquela pessoa aviltante. Eu aposto que foi aquela outra desvairada que colocou coisas na sua cabeça. A criadagem me disse que ela esteve aqui conversando com Octávio.
- Francy não é nenhuma desvairada. E ela só me contou a verdade. A senhora que armou tudo isso.
- Eu não fiz nada. Eu não tenho culpa se amiga dela não conseguiu dar o golpe em algum europeu, e voltou tão pobre quanto antes.
- Mamãe, Júlia não é interesseira como à senhora. Ela e Tavinho se amam.
- Que amor minha filha! Ela estava interessada no dinheiro de nossa família! Você não sabe o que é amor!
- E por algum acaso a senhora sabe? A senhora ama o papai? A senhora nunca o amou, a senhora ama o dinheiro que ele tem e a vida que ele lhe proporciona. A senhora transformou a vida do Tavinho semelhante a sua: só tristeza.
- E quem é você para me dar lição de moral? Você está ficando velha e não tem um marido, não tem filho. Vai ficar só no mundo. – Ela sabia como tocar no ponto fraco das pessoas.
- Eu não quero dar lição de moral nenhuma! Só quero que a senhora concerte seu erro. Deixe seu filho ser feliz com a mulher que ele sempre amou.
- Não vou concertar erro nenhum. Eu não fiz nada. E seu irmão vai morar em Londres em breve.
- O quê?
- Isso mesmo que você ouviu. Ele recebeu um convite para trabalhar em uma multinacional com sede em Londres. Ele vai se mudar para lá com o Vitorrio. E você nem pense em colocar nada na cabeça de seu irmão.
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  Genny saiu decepcionada do quarto. Nunca imaginou que sua mãe fosse tão fria, tão malévola. Mas ela não iria se dar por vencida. Já que Tavinho não tinha me escutado, ela pensou que, talvez, ele a escutasse. Ao sair do quarto de dona Andréia foi falar com ele:
- Tavinho?- falou Genny ao bater na porta.
- Oi Genny, a porta está aberta. – Genny foi entrando tentando disfarçar o choro:
- Que gritaria foi essa no quarto da mamãe? Por que você está chorando?
- Ai Tavinho! A mamãe como sempre com seu egoísmo.
- O que houve?
- Aquela estória da carta de Júlia foi tudo armação dela, Tavinho!
- Essa estória de novo não Genny, por favor!
- É verdade. Você precisa acreditar em mim. A mamãe que armou tudo aquilo.
- A mamãe nunca faria isso Genny! Você sempre com essa mania de persegui-la.
- Engano seu meu querido. Se você não escreveu aquela carta para Júlia, quem escreveu? Só pode ter sido uma pessoa que queria te ver longe dela, e quem, além da mamãe, queria ver vocês separados? Só a mamãe Tavinho!
- E se foi a mamãe, o que importa agora? Não quero mais saber de Júlia.
- Muito bem Octávio. Isso mesmo. Obedeça a dona Andréia Cavalcantti Sodré, por que se não você vai ficar de castigo!
- Eu não quero discutir Genny!
- Nem eu! Só quero que você acorde. Você é um boneco na mão da mamãe. Faz tudo o que ela manda. Você precisa crescer Tavinho. Você não pode deixar que nossa mãe destrua seu amor com Júlia! Seja contrário a ela, ao menos uma vez na sua vida.
- Júlia errou Genny! Estou muito magoado com ela. Ela preferiu acreditar em pedaços de papel a acreditar em mim, que sempre a amei.
- E quem não erra meu bem? Todos têm direito a uma segunda chance. Deixe esse orgulho besta e corra atrás de seu amor.
- Agora é tarde Genny, eu estou com viajem marcada a Londres, como você já deve saber.
- Chame-a para morar com você em Londres! Casa-se com ela logo Tavinho. Vocês já perderam tempo demais.
- E se ela não me quiser mais?
- Se... Se... Se... Esqueça o “se”. Você só saberá se perguntar. Arisque. Eu tenho certeza que Júlia irá aceitar. Ela te ama, e assim como você está sofrendo muito com o que aconteceu.
- Preciso pensar Genny! Mas muito obrigado por tudo.
  Genny ia em direção a porta quando Octávio a chamou:
- Genny?
- Diga Tavinho...
- Eu escutei o final da sua conversa com a mamãe. Foi inevitável, vocês gritavam muito.
- Não tem problema mano.
- Não ligue para o que ela fala minha irmã. Você é linda e jovem! Um dia você irá encontrar o amor da sua vida, irá casar; ser mãe... Enfim, tudo é no tempo certo de Deus.
- Muito obrigado, meu amor. Você e o Vittorio são as coisas mais preciosas que tenho. Vou sofrer muito sem vocês aqui comigo. –Genny não conteve a emoção e colocou para fora todo o choro que estava abafado dentro de si.
- Venha cá minha irmã. Dê-me um abraço! Nós também te amamos muito, e sempre que você quiser pode nos visitar em Londres. - ambos choraram.

 Fiquei muito feliz quando Genny me contou por telefone toda à conversa com Tavinho. Senti que esse mal entendido está perto de ter um fim que parece ser feliz!


P.S: Termina aqui minha participação na narrativa da história de Júlia. Adorei poder contar uma parte da história de minha melhor amiga!
 Aaaaah... Júlia não sabe de nada que eu fiz! É segredo.
                             Francy.

Júlia. Nunca é tarde para amar.(capítulo XII)

A dama de ferro...
                                   (De frente com a fera)

   Genny ficou tão assustada quanto eu. Mesmo conhecendo a capacidade da mãe, ela não esperava que dona Andréia fosse tão baixo. Quando chegou em, Genny foi diretamente à procura de dona Andréia:
- Boa tarde Marisa. Minha mãe está em casa?
- Boa tarde dona Genny. A dona Andréia está no quarto, ela chegou com dor de cabeça e foi deitar. Disse que não quer ser incomodada.
- Muito obrigada Marisa. Mas ela vai ser incomodada!
- Olha lá dona Genny! Depois ela briga comigo.
- Fique tranqüila, ela não irá reclamar com você.
  Genny subiu eufórica pelas escadas. O quarto ficava no fim do corredor. Por mais que estivesse irritada, Genny não podia ser agressiva com sua mãe. Com calma é que se resolveriam as coisas. Quando chegou à porta do quarto, estava tão nervosa que não bateu na porta:
- Mamãe? –Silêncio. Dona Andréia estava deitada com sua máscara no rosto.
- Mamãe, eu sei que a senhora está acordada. Precisamos conversar. – Dona Andréia tirou a máscara do rosto e olhou para Genny com estranheza, afinal eram raras as vezes que elas conversavam.
- O que foi minha filha? Parece que você viu fantasma.
- Pior que isso mãe. A senhora sabe por que Júlia abandonou o Tavinho?
- Ai Genny! Já vem você com essa estória. Isso é passado minha filha. Pare de se meter na vida do seu irmão, e vá tratar de conseguir um marido.
- Não precisa responder mãe. A senhora sabe muito bem por que Júlia foi embora sem explicar nada a ele.
- Eu não sei de nada. Tudo o que eu sei é que aquela vigarista iludiu seu irmão, e o abandonou por que deve ter aparecido outro mais rico e mais besta do que ele.
- Deixe de fingimento mãe! A senhora que armou tudo isso. Fez a carta em nome de Tavinho, colocou as fotos de Maria clara. E aposto como tem participação sua na ida de Júlia à Europa.
- Não sei de estória nenhuma de carta! Você está ficando louca minha filha! Deixe seu irmão em paz.
- A senhora que não o deixa em paz, nunca o deixou ser ele mesmo! Sempre ele teve que fazer o que a senhora quer. Tavinho ta infeliz e a senhora não vê isso, por que só está interessada em dinheiro!
- Seu irmão é muito feliz, sim. Casou com uma mulher linda, da mesma classe social que ele, e tem um filho maravilhoso.
- Ele nunca foi feliz com Maria Clara. Pergunte a ele. A senhora destruiu a vida de seu próprio filho quando o afastou de Júlia.
- Ela nunca amou Octávio, Genny. Deixe de ser boba e pare de defender aquela pessoa aviltante. Eu aposto que foi aquela outra desvairada que colocou coisas na sua cabeça. A criadagem me disse que ela esteve aqui conversando com Octávio.
- Francy não é nenhuma desvairada. E ela só me contou a verdade. A senhora que armou tudo isso.
- Eu não fiz nada. Eu não tenho culpa se amiga dela não conseguiu dar o golpe em algum europeu, e voltou tão pobre quanto antes.
- Mamãe, Júlia não é interesseira como à senhora. Ela e Tavinho se amam.
- Que amor minha filha! Ela estava interessada no dinheiro de nossa família! Você lá sabe o que é amor!
- E por algum acaso a senhora sabe? A senhora ama o papai? A senhora nunca o amou, a senhora ama o dinheiro que ele tem e a vida que ele lhe proporciona. A senhora transformou a vida do Tavinho semelhante a sua: só tristeza.
- E quem é você para me dar lição de moral? Você está ficando velha e não tem um marido, não tem filho. Vai ficar só no mundo. – Ela sabia como tocar no ponto fraco das pessoas.
- Eu não quero dar lição de moral nenhuma! Só quero que a senhora concerte seu erro. Deixe seu filho ser feliz com a mulher que ele sempre amou.
- Não vou concertar erro nenhum. Eu não fiz nada. E seu irmão vai morar em Londres em breve.
- O quê?
- Isso mesmo que você ouviu. Ele recebeu um convite para trabalhar em uma multinacional com sede em Londres. Ele vai se mudar para lá com o Vitorrio. E você nem pense em colocar nada na cabeça de seu irmão.
 ***********************************************
  Genny saiu decepcionada do quarto. Nunca imaginou que sua mãe fosse tão fria, tão malévola. Mas ela não iria se dar por vencida. Já que Tavinho não tinha me escutado Francy, ela pensou que, talvez, ele a escutasse. Ao sair do quarto de dona Andréia foi falar com ele:
- Tavinho?- falou Genny ao bater na porta.
- Oi Genny, a porta está aberta...
- Que gritaria foi essa no quarto da mamãe? Por que você está chorando?
- Ai Tavinho! A mamãe como sempre com seu egoísmo.
- O que houve?
- Aquela estória da carta de Júlia foi tudo armação dela, Tavinho!
- Essa estória de novo não Genny, por favor!
- É verdade. Você precisa acreditar em mim. A mamãe que armou tudo aquilo.
- A mamãe nunca faria isso Genny! Você sempre com essa mania de persegui-la.
- Engano seu meu querido. Se você não escreveu aquela carta para Júlia, quem escreveu? Só pode ter sido uma pessoa que queria te ver longe dela, e quem, além da mamãe, queria ver vocês separados? Só a mamãe Tavinho!
- E se foi a mamãe, o que importa agora? Não quero mais saber de Júlia.
- Muito bem Octávio. Isso mesmo. Obedeça a dona Andréia Cavalcantti Sodré, por que se não você vai ficar de castigo!
- Eu não quero discutir Genny!
- Nem eu! Só quero que você acorde. Você é um boneco na mão da mamãe. Faz tudo o que ela manda. Você precisa crescer Tavinho. Você não pode deixar que nossa mãe destrua seu amor com Júlia! Seja contrário a ela, ao menos uma vez na sua vida.
- Júlia errou Genny! Estou muito magoado com ela. Ela preferiu acreditar em pedaços de papel a acreditar em mim, que sempre a amei.
- E quem não erra meu querido? Todos têm direito a uma segunda chance. Deixe esse orgulho besta e corra atrás de seu amor.
- Agora é tarde Genny, eu estou com viajem marcada a Londres, como você já deve saber.
- Chame-a para morar com você em Londres! Casa-se com ela logo Tavinho. Vocês já perderam tempo demais.
- E se ela não me quiser mais?
- Se... Se... Se... Esqueça o “se”. Você só saberá se perguntar. Arisque. Eu tenho certeza que Júlia irá aceitar. Ela te ama, e assim como você está sofrendo muito com o que aconteceu.
- Preciso pensar Genny! Mas muito obrigado por tudo.
  Genny ia em direção a porta quando Octávio a chamou:
- Genny?
- Diga Tavinho...
- Eu escutei o final da sua conversa com a mamãe. Foi inevitável, vocês gritavam muito.
- Não tem problema mano.
- Não ligue para o que ela fala minha irmã. Você é linda e jovem! Um dia você irá encontrar o amor da sua vida, irá casar; ser mãe... Enfim, tudo é no tempo certo de Deus.
- Muito obrigado, meu amor. Você e o Vittorio são as coisas mais preciosas que tenho. Vou sofrer muito sem vocês. –Genny não conteve a emoção e colocou para fora todo o choro que estava abafado dentro de si.
- Venha cá minha irmã. Dê-me um abraço! Nós também te amamos muito, e sempre que você quiser pode nos visitar em Londres. - ambos choraram.

 Fiquei muito feliz quando Genny me contou por telefone toda à conversa com Tavinho. Senti que esse mal entendido está perto de ter um fim, que parece ser feliz!


P.S: Termina aqui minha participação na narrativa da história de Júlia. Adorei poder contar uma parte da história de minha melhor amiga!
 Aaaaah... Júlia não sabe de nada que eu fiz! É segredo.
                             Francy

terça-feira, 7 de dezembro de 2010



Manhã de sábado na favela. Dia de feira. Logo cedo, donas de casa descem as escadarias rumo às compras. Um alarido sem fim. Meninos a correr. Mães a gritar:
-Vamo menino!
- Pára menino!
É sábado na favela. Dia de festa. A favela amanhece diferente no sábado. O sol aparece com um brilho maior. Lá em baixo é a maior gritaria:
- Olha a banana, ta na promoção freguesa!
- A laranja ta fresquinha! – gritam os feirantes; passam a manhã disputando o gosto das freguesas.
As mulheres correm como loucas quando escutam a palavra promoção. Perdem-se as sacolas, perdem-se as sandálias, perdem-se os meninos, só não se perde a promoção!
Foi em uma manhã de sábado que tudo aconteceu. Ouvi-se um burburinho vindo da casa de Maria. Era final de feira. As mulheres voltavam cheias de sacolas e com um sorriso, enorme, estampado no rosto:
- AAAAAAAAAAAI meu Deus! Eu não acredito! – ecoava o grito vindo da casa de Maria.
- O que aconteceu na casa de Maria?- perguntou umas das mulheres ao grupo que seguia de volta para casa.
- Quem lá sabe! Esse povo hoje em dia ta tudo doido cumade. –respondeu a outra com um ar de curiosidade esticando o olho para dentro da casa de Maria.
- NÃO PODE SER MAMÃE! AI MEU DEUS!- outro grito na casa de Maria. O barulho do lado de fora ficou pior. As mulheres interromperam a peregrinação e ficaram todas aglomeradas em frente à casa para ver o que acontecia lá dentro:
- será que foi assalto?
- Sei não, acho que é sequestro. Deve ta todo mundo lá dentro de refém!
- Vamo chamar a polícia.
- É melhor não, nunca se sabe do que esse povo é capaz!
A confusão em frente à casa de Maria ia crescendo com o passar do tempo. Cada nova pessoa que chegava opinava:
- Eu acho que assassinaram alguém aí dentro. Devem ta escondendo o corpo pelo silêncio. – palpitou um senhor que acabara de chegar.
- Sai daí velhote, que assassinato que nada, tenho certeza que tem estupro nessa história. – falou dona Joana; a maior fofoqueira da favela.
- Deixe de ser fofoqueira Joana! Alguém deve ter morrido de enfarte, aposto como foi isso. Tá na moda morrer de problema no coração, hoje em dia. – gritava uma velha lá do fundão.
- olha, agora tão chorando! Estão correndo. Será que o bandido vai sair? Abaixa que é tiro gente!
Foi uma correria danada. Na confusão, muitas mulheres perderam as sacolas, um desperdício, uma manhã de feira perdida. Crianças caídas no chão a chorar. Senhoras empurradas pela turba que corria. Sandálias esquecidas no chão. A gritaria foi tão grande que todos que estavam na casa de Maria escutaram.
Logo que ouviu a bagunça, tia Carmita colocou a cabeça na janela do primeiro andar:
- Que gritaria é essa minha gente?
- Fale baixo,  dona Carmita!
- Falar baixo por que seu João?
- Ele pode querer sair dona Carmita.
- Ele quem homem de Deus?
- O ladrão Carmita! – gritou uma mulher, que nessas alturas estava toda suja, sem a sandália esquerda, com o cabelo assanhado...
- Ladrão nada, o estuprador! – Gritou Joana, irritada.
- Fique quieta aí Joana. Conte-nos logo Carmita, quem morreu de enfarte?
- Que confusão é essa? Não estou entendendo nada! Que estória é essa de estuprador, ladrão, enfarte? Vocês estão ficando doidos é?
- Então que gritaria foi essa aí dentro, Carmita? – falou dona pretinha, toda bagunçada, com uma cara mais feia que cara de cachorro Pit Bull. A pobre da dona pretinha perdera a prótese dentária na hora da correria.
- A gritaria? Aaaah... Foi Laurinha, filha de Maria, que passou no vestibular!
O problema foi resolvido. Todos saíram desconcertados, procurando os perdidos. Nada de ladrão, nada de estuprador, nada de enfarte. Toda aquela gritaria era de felicidade!
                       Jefferson Piaf


Confissões de uma prostituta bêbada




Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaah

Um cigarette, s’il vous plaît!

O que é? Tá olhando o quê?

Nunca me viu não?

hahahahahaaha

Precisa esconder o riso não! podem rir mocinhas! Podem rir da minha desgraça!

Mas um dia eu fui como vocês, inocente. Uma boa menina.

Hahahahahaha

Un cigarette garçon! S’il vous plaît!

Eu estou invisível?

Por que vocês não me ouvem?

Aaaah, ninguém escuta uma prostituta bêbada!

HIPOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOCRITAS
Eu tenho nojo de vocês!
Ei mocinha, você me acha uma pessoa má?
Eu não sou má (choro)
Sou só um produto deste meio
Vocês acham que eu faço isso por que gosto?

Eu faço isso por que é minha única saída!

Odeio deitar com esses homens!

Deus me ama? Cala a boca, sua mal amada. Deus não me ama, ele foi o primeiro a me

Abandonar!

Meu sonho era ser aeromoça!

Mas meus pais morrem quando eu era criança!

(choro continua)

Fiquei só no mundo!

Abandonada


Passei fome, apanhei, fui estuprada!

Não é fácil viver na rua tia!

Nunca fui à escola, minha escola foi as ruas desta cidade, as esquinas, os cabarés!

Desde os 10 anos que eu me prostituo.

Ei, un cigarette s’il vous plaît!

Aaah... Ser aeromoça não passou de um sonho!

Sou aeromoça das esquinas Recifenses, da praça do diário!

Não tenha vergonha de mim, senhora!

Eu sou só uma prostituta bêbada, eu sei!

Mas não precisa ter medo de mim, eu não mordo!

Ei, un cigarette s’il vous plaît!

                              Jefferson Piaf