sexta-feira, 7 de outubro de 2011

“Eu te amo”.

Agora é tarde. Não há mais o que ser feito. Não há mais o que ser dito... A morte chegou até ela. E em seus últimos segundos de vida ela disse “Eu te amo”. Ela poderia ter dito tantas coisas, mas foi tudo tão rápido, muitos acontecimentos passaram em sua cabeça naquele momento, toda sua vida foi repassada na velocidade da luz. Ela chegou à conclusão de que tinha sido feliz. Essas três palavras resumiram tudo o que ela tinha pra dizer, mas o tempo não lhe permitiria ser prolixa, já não havia mais forças. Muitas vezes ela teve que ser forte como um homem para enfrentar as intempéries dessa vida, outras vezes teve que ser tão frágil quanto uma boneca... Ela enfrentou tudo, menos a morte. Mas quem irá enfrentar esta? A morte é o fado que cabe a todos, não adianta relutar contra ela e nem muito menos fugir, pois uma hora ela chega, na nossa hora ela vem. Foi assim que ela agiu: em momento algum se opôs, aceitou a todo passivamente, pois tudo que ela podia ter feito nessa vida ela fez; amou, chorou, sorriu, sofreu, por vezes odiou também... Mas no fim de tudo foi feliz. Foi assim que ela se sentiu ao olhar para trás, no seu leito de morte, e ver cada trecho de sua história. “Eu te amo” é tão pequeno, mas de significado imensurável. O tempo passará e aos poucos todos aprenderam a controlar a dor causada por sua ausência, só terão uma lembrança longínqua dos momentos felizes, e também dos tristes, que compartilharam. A vida segue, até que chegue a nossa vez...

                                   Jefferson Piaf

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O homem.

Eu tinha largado do trabalho e caminhava por uma rua pouco iluminada, em direção ao ponto de ônibus, quando vi mais a minha frente algo estendido no chão. A princípio pensei que fosse lixo ou roupas velhas, pois as pessoas passavam por perto e não esboçavam alguma reação. Quando me aproximei da “coisa” vi que era um velho que parecia dormir. Um homem meu Deus! Muitas pessoas, inclusive eu, passavam por ali e olhavam como se fosse algo natural. Meu cansaço era tamanho a ponto de encarar aquilo com naturalidade. A imagem daquele corpo sorumbático não saía da minha cabeça, e por mais que eu não desejasse lembrar- Tentei inúmeras vezes pensar em outras coisas- eu não conseguia. Um homem! Como seria seu nome? Qual seria sua história? Por que ele estava ali jogado? Podia chover! Eram tantas perguntas... E as pessoas que não se comoviam? Eu havia esquecido que nos dias de hoje isso é tão comum. Todos estamos muito ocupados, não “perdemos tempo” com o próximo, principalmente quando o próximo é um mendigo. Somos verdadeiros computadores ambulantes, fazemos tudo ao mesmo tempo: essa é maior virtude da vida pós-moderna. Aquele homem chamou a minha atenção para outra questão importante: a invisibilidade social; ele era só mais um caso. Quantas vezes não enxergamos a pessoa que recolhe o lixo, ou a pessoa que faz a limpeza, ou ainda aquele professor que todos os dias dorme tarde preparando aula; muitas vezes não os enxergamos por que só nos preocupamos com nossas futilidades. Tá aí um dos piores males da humanidade: o egoísmo.

Se continuarmos a olhar só para nosso umbigo onde iremos parar?

                                             Jefferson Piaf
*Para Minha querida Alice Rocha.