sábado, 5 de janeiro de 2013

A morte do Gato








Nunca mais se ouvirá o miado juvenil do pobre gato. Agora jaz! Largado sobre o gélido asfalto, ele olha fixamente para O nada. Vai ver que não sentiu dor, não houve derramamento de sangue...  Não se sabe seu nome, se é que o tinha. E sua história? Sua dona? Agora ele é só algo, sem vida, deixado para trás. Os amigos o cercam na tentativa de entender o que se passa ali. Por que ele não se mexe? E não precisa ser nenhum tradutor da linguagem dos felinos para entender os miados frenéticos!  O mais velho do bando tenta se aproximar do corpo e ensaia um miado entrecortado, se fosse humano aposto que diria o seguinte: “Hey companheiro! O que houve? Levanta daí cara e vamos caçar ratos”. Nenhuma resposta, ele continua imóvel. Os outros amigos continuam assustados em volta dele, os olhos quase pulando do rosto. Vez ou outra algum tenta chegar perto, mas logo recua. O chefe continua tentando levantá-lo, mas como das demais vezes é em vão. Ele não se mexe. Cartada final: “Hey cara, levanta já daí. Essa brincadeira de estátua não tem mais a menor graça, você já venceu. Sai já daí, já vem o cachorro!” Ele continua com a mesma feição. Os outros gatos não aguentam mais esperar por esse teimoso, e seguem a arruaça noturna. Ele que se vire. Com o tempo ele será esquecido, quiçá ficará uma vaga recordação de um filhote brincalhão que sempre era o mais afoito da turma, não tinha medo de nada. As horas se passam e ele continua lá, jogado. A luz, do único poste que funciona dá destaque àquele bicho esquecido; principalmente aos seus olhos,  cor de mel, arregalados. Passam senhoras, algumas olham sem a menor preocupação, outras lamentam, fazem o sinal da cruz, uma repreende a outra por isso! É heresia rezar por bicho, gato não é gente... Um grupo de amigos passa ao lado do gato, e param para contemplá-lo! A mais sensível lamenta-se pelo acontecido, além de se perguntar milhares de vezes como isso aconteceu com o coitado, será que foi um carro? Será que foi proposital? Nunca se saberá as respostas dessas e de outras perguntas sobre o mesmo. O mais humano dirá que era só um gato, muitos outros ficaram no mundo. O mais utópico diz que o evento dá uma crônica: A morte do gato... E ele vai gritando rua adentro! A MORTE DO GATO.  Sua dona sentirá sua falta nos primeiros dias, ele sempre saía à noitinha, mas voltava assim que o dia raiava. Ele não voltará mais. Por via das dúvidas ela deixará sempre sua ração com leite no mesmo lugar, vai que ele resolve aparecer em casa. Ela, a princípio, acredita que o bichano pode ter perdido o caminho de casa, logo achará. Depois ela passará a acreditar que alguém sem coração o levou para longe, e se convence de que não irá ver seu filhote crescer e virar um gato adulto (Ninguém verá), quanto a isso ela acerta. Ele será substituído por outro gato, ou até um animal genérico. A aurora anuncia a chegada de um novo dia e o gato continua lá. Os homens da coleta de lixo passam nas primeiras horas do dia e dão de cara com o corpo do gato, pegam o animal pelas patas traseiras e jogam no caminhão. Problema resolvido! Os primeiros transeuntes  não verão mais aquela cena triste. O local do crime já está limpa! No decorrer dos dias muitas pessoas pisarão onde jaz um gato, muitos carros pararão bem no local, muitos pneus passarão por lá, crianças brincarão ao redor, amigos se reencontrarão naquela rua, risos e choros... E ninguém saberá que justo ali morrera um gato, ou melhor, um frágil F-I-L-H-O-T-E de gato.


                               Jefferson Piaf

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