Nascemos. O primeiro choro é o romper das membranas que até
então encobriam nossos pulmões. O ar inalado é o sinal que daqui por diante teremos
que fazer isso sem ajuda de nossa mãe. Começa nossos 15 minutos de fama! Recebemos
mimos de todos os lados. Tudo que fazemos é motivo para risos, gracejos, com
direito a fotografias, filmagens... Todos os parentes vão até nossa casa só
para nos ver. Crescemos, outras crianças nascem e logo os holofotes vão para outro lugar. É o fluxo vital!
Chegamos à fase do
explorador. Tudo chama nossa atenção, a curiosidade a flor da pele! Primeiros passos;
como lutamos por isso! É o primeiro passo de uma coisinha chamada liberdade,
lutamos por ela antes mesmo de existir e não sabemos! Queremos explorar, ao
máximo, o desconhecido. Medo é uma palavra que não existe até o presente
momento. Corremos perigos, como achamos
interessante encaixar do prego na tomada. Encaixe esse perfeito! Como os
adultos não pensaram nisso antes? Somos um gênio!
Já andamos com
nossas próprias penas. Ensaiamos as primeiras palavras, e nos recusamos a comer
com o auxílio de outra pessoa, podemos fazer isso muito bem sozinhos. Somos pseudoindependentes.
Precisamos ir à escola! É trágico ver sua mãe indo embora e te deixando para
trás, é só a primeira de muitas despedidas que a vida nos reserva. Fazemos xixi
nas calças, choramos, mas não tem acordo. Rapidamente nos acostumamos, fazemos
nossos primeiros elos de amizade, muitos perpetuarão por toda nossa vida. Aprendemos
a documentar o que falamos e pensamos... A escola é o máximo! A cada dia
queremos ser uma coisa diferente. De início queremos ser professor, é a profissão
que mais admiramos; comandar uma sala é mesmo algo muito bacana. Daí na outra
semana queremos ser médico, na outra músico, cantor, jornalista... E todas as
profissões que existirem! É o momento que mais sonhamos!
Somos adolescentes. Nessa fase que os hormônios mais fervem!
Formamos nossos primeiros grupos de amizade. Conhecemos termos como Primeiro
beijo, primeira vez, preservativo, pílula... É tanto primeiro isso, primeiro
aquilo que dá um nó na cabeça. Surgem as cobranças. A idade começa a andar, precisamos estudar
para o vestibular, ter um futuro garantido. Nossos pais falam todos os dias. Conhecemos
nosso primeiro amor, o sexo. Somos deturpados! É tanta coisa acontecendo ao
mesmo tempo, são tantas adaptações, que às vezes achamos que iremos
enlouquecer. Mas sobrevivemos perfeitamente a tudo. Sofremos pela primeira vez!
A-M-O-R, nos faz mal, mas é tão necessário.
Sonhamos com os 18 anos, em nossa cabecinha essa idade significa
independência total, planos: trabalhar, morar só, percorrer o mundooOooOoo. São
os anos que mais nos iludimos!
Estamos quase
adultos! Entramos na faculdade, não gostamos do curso, trocamos, trocamos
novamente, uma hora achamos algo que nos realize. Enquanto isso nossos pais
reclamam por que não sabermos o que queremos da vida. Ela começa a nos
castigar, temos que carregar o mundo nas costas, e não fomos treinados para
isso. Trabalhar e estudar é complicado. Chegamos aos 18 anos e toda aquela
ideia libertária nos parece líquida agora, assim como outras coisas. Estamos sufocados.
Muitas vezes trabalhamos com o que não gostamos, somos infelizes na maior parte
do tempo. Todo aquele encanto que tínhamos antes vai se desfazendo. A vida se
mostra dura! E não estamos preparados para isso. O destino, aos poucos, nos
afasta dos nossos amigos. Raramente todos têm tempo para sair, rir, relembrar a
infância, ser feliz! Quando esses poucos momentos acontecem são únicos. A vida é sofrida!
Casamos! E com esse
contrato vêm os filhos, contas e mais contas. O salário é pouco para tanto
custo. Por vezes achamos que iremos surtar de vez! Mudamos de lado: agora somos
os pais, o ciclo recomeça. Somos exemplo. E todo aquele besteirol e utopias da
adolescência deixamos de lado para que sejamos respeitados. Nosso lado
profissional atinge o nível máximo. Somos felizes. Choramos. Rimos. Brigamos. Tudo acontece ao
mesmo tempo, e os dias se passam tão rápidos que quando percebemos já é natal,
família reunida à mesa. O casamento
entra em crise! Casamos novamente. Temos mais filhos. Talvez nos separamos e
recasamos muitas e muitas vezes. Sempre queremos buscar a felicidade, mas chega
uma idade que ela é efêmera por demais. Somos inconstantes!
A velhice chega. Cansados
da vida. E percebemos isso quando vemos as pessoas que amamos, pessoas que
fizeram parte de momentos especiais em nossa vida nos deixarem. Dizemos adeus a
nossos pais, é o momento mais trágico de nossas vidas. Como viver sem quem nos
protegeu até então? Temos medo de fracassar. Amigos também se vão! Estamos
sozinhos no mundo, os filhos estão ocupados fazendo suas vidas, conquistando
seus objetivos! Resta-nos a lamentação. Mas podemos fazer diferente. Nunca é
tarde para recomeçar, inventar um novo percurso e encontrar uma nova
felicidade. É melhor arriscar a ter que viver os últimos dias sendo um velho
amargo que reclama de tudo! Morrer não é tão ruim quanto se pensa,
principalmente quando olhamos para trás, e vemos desde lá do comecinho tudo que
fizemos! E se foi bom, só cabe a cada um de nós responder...
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