sábado, 18 de dezembro de 2010

A festa na casa dos de Souza.



Dia de animação na favela. Festa na casa dos de Souza; os que têm condição financeira melhor de toda favela. As pessoas já acordam no ritmo da festa. Os de Souza não precisam de razão para comemorar. Por qualquer coisa eles dão uma festa. Se nasce alguém, festa. Se o menino mais novo perde o primeiro dente, festa. Se a menina caiu, festa...
A mulherada da favela lota o salão de dona Carminha. É uma correria danada! Dona Carminha fica doida quando tem festa na casa dos de Souza. Todo mundo quer estar bonito. Essa alegria toda não é só por causa da bebida e da comida em abundancia. Sempre tem uma confusão quando se trata de festa na casa dos de Souza. Na última festa teve gente que saiu de ambulância. E o pior que nunca se sabe o porquê das brigas. Só se sabe de uma coisa: festa na casa dos de Souza que termina sem briga não é festa!
As festas sempre começam no fim da tarde. É um sobe e desce descomunal em direção a tal casa onde acontece a festa. Tudo começa tranqüilo. Todos dançando; brincando; bebendo. Uma coisa linda a festa na casa dos de Souza; é de dar inveja a qualquer bacana. Mulheres, bêbadas, agarradas a seus homens, dançando o brega do momento. É um bacanal sem fim. Todo mundo dançando com todo mundo. Deixa o povo ser feliz, é só uma vez.
As horas vão passando e nada da bendita confusão. As pessoas começam a olhar o relógio com impaciência. Dona pretinha já não aguenta mais ficar acordada esperando a briga:
- Eu vou embora, tô vendo que hoje não sai briga! Perdi minha noite de sono. - diz a velha irritada.
- Deixe de coisa pretinha! Já não tarda a começar o barulho. Vem cá minha velha, tome mais um copinho de cerveja. Aproveite que hoje é de graça.  – Aconselhava dona Joana.
- Olha lá dona Carminha, a Kelly no maior sarro com Vadinho. – Dona Joana já estava de plantão.
- Mas olha só Joana, e depois essa coisa diz que é crente. E ainda vem falar de Jesus, e ela lá sabe nada de Jesus. – ajudava dona carminha na fofoca.
- Olhe quem está ali Sônia, Edmilson. Ele já pagou o que lhe deve minha amiga?
- Pagou nada Joana.
- E você vai deixar assim é? Deixe de ser boba e vá cobrar!-Eita Joana fofoqueira; passava a festa toda bebendo e falando mal dos outros. Não dava descanso a ninguém.
- Mas eu vou é agora. Já já eu volto.
- Você não tem nada mais importante, do que olhar a vida dos outros, pra fazer não Joana? – Gritou Rita da mesa.
- E desde quando eu lhe devo explicações. Tome conta da sua vida. Ah senhor, que mulher atrevida.
- Atrevida é você, fofoqueira do cão!
- E vocês duas podem parar com essa putaria? – gritou mais alto, dona Carminha.
A festa continuava com tudo. Mas nada de briga, nem uma briguinha boba. Quando todos estavam desesperançados, a confusão começou. Duas mulheres- dos de Souza- estavam agarradas. O maior puxa-puxa de cabelo. O menino, ao ver sua mãe no meio da briga, pulou no cabelo da outra mulher:
- Solte minha mãe sua cão gorda! Aaaaaaaaaaaaaaah.                 
Todo mundo pôs a correr. O diabo do menino era tão ruim que ninguém conseguia puxar a peste. Foram dois homens para tirar o cão mirim de cima dos cabelos da tia. Quando conseguiram tirar o projeto de satanás, ele veio com o aplique da tia nas mãos. Pobre da dona Carminha; passou o dia todo para colocar o mega hair e a peste do menino tirou em alguns minutos.
A confusão foi aumentando. Parecia mais um furacão; puxava quem estava passando por perto. Todo mundo batia e todo mundo apanhava. Parecia mais fim de jogo na Ilha do retiro entre Sport e santa cruz. Nessas horas dona pretinha já estava roncando:
- Dona pretinha! Acorde nega. Olha a confusão. Corra se não você é arrastada! – gritou uma mulher, que no meio da confusão não se sabe quem era.
Dona pretinha levantou-se sem saber onde estava. Por via das dúvidas colocou a mão na boca para não perder a prótese dentária outra vez.
A matriarca da família de Souza era muito Esperta. Só ela conseguia acabar com aquela barulhada:
- Ai meu Deus, eu vou morrer! Tô com gosto de sangue na boca! Minha pressão tá subindo. – gritava a velha fingindo desmaio.
- Mããããããe! Se minha mãe morrer eu mato você, seu infeliz! – disse umas das filhas ao marido.
- Para essa confusão. Eu vou morrer; meu coração tá parando. Eu vou ter um AVC.
No mesmo instante a confusão parou. Era uma atriz essa mulher! Desligou-se o som; as pessoas retornaram as suas casas. Todos estavam felizes, pois tinham ido a uma festa na casa dos de Souza, e com direito a confusão. E dessa vez ninguém foi pra casa de ambulância, uma pena!

                                       Jefferson Piaf

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