quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Júlia. Nunca é tarde para amar...(capítulo IX)

Rompendo casulos...
   (momento de crescimento. É preciso amadurecer.)


Pedi licença de um mês do hospital e da clínica. Tudo está muito recente em minha mente. Eu não estou em condições de voltar, ao menos agora, para o trabalho. Já passaram duas semanas da morte de Paulo. Duas semanas que eu não saio de casa. Meu telefone toca sem parar, minha secretária eletrônica está carregada de recados. Não quero ver ninguém, não quero falar com ninguém. Quero a solidão como minha única companheira. Depois que todo esse sofrimento passar, eu retorno as minhas atividades. Por ora, é melhor eu ficar sozinha. Pedi ao porteiro para não deixar ninguém subir. Pedi para dizer que eu estava viajando.
  Porém, em uma tarde de domingo minha campainha tocava sem parar. Fiquei irritada. Eu disse que não queria ver ninguém. Fui até o olho mágico para ver quem era. Francy. Aposto que ela deve ter feito o maior drama para o porteiro deixá-la subir. Voltei para o sofá e deitei. Em breve ela cansaria e desistiria.
   Ela não desistiu. Teimosa como sempre foi, não iria embora sem falar comigo. Achei melhor abrir a porta, já que ela não iria sair mesmo. Se bem a conheço, ela montaria acampamento em minha porta:
 - Francy. – falei com uma leve irritação.
- Júlia, o que está acontecendo com você? Você não atende minhas ligações, não responde meus recados. No hospital me disseram que você estava de licença.
- Não está acontecendo nada! Eu só quero ficar só. É algum crime isto?
- Ficar só? Para de se vitimar Júlia. O mundo não acabou só por que Paulo morreu. Ele não deve estar nada feliz ao ver você neste estado.
- Que estado?
- Que estado? Olhe para você Júlia. Você está destruída. Você está mais magra, nem deve ta comendo direito.
- Para você é tudo muito fácil Francy! Realmente é fácil quando não acontece com os outros.
- Eu sei que não está sendo nada fácil para você. Mas não é por isso que você vai se prender em sua “torre de marfim” e se isolar do mundo. Olhe lá fora Júlia. O dia está lindo. Deixe os raios do sol iluminarem sua vida.
 - Eu não sei o que fazer Francy. Estou sem chão. Não sei por onde começar, ou melhor, por onde recomeçar.
- Recomece eliminando esse pessimismo, que só te destrói. Sabe Júlia, meu pai sempre me contava uma estória quando eu era criança. Ele me dizia que toda linda borboleta, foi uma largata feia. Um dia elas entravam em um casulo, passavam meses dentro dele, imóveis. Porém, quando já estavam transformadas, amadurecidas, elas rompiam o casulo. E saíam de lá não mais uma largata feia, mas uma linda borboleta a voar. E você sabe por quanto tempo elas viviam?
- Não.
- Apenas um dia. Passavam meses presas para só viver um dia. E elas faziam desse dia o melhor de todos. Se elas fossem pessimistas, como você, não passariam pela metamorfose. Viveriam para sempre como lagartas.
- linda estória! Mais essas coisas são funcionam em contos.
- Isso acontece conosco também. Isso está acontecendo com você. Não importa a situação que você se encontra, o que importa é você ter sensibilidade para captar as coisas belas da vida.
Eu fiquei calada. Não sabia o que dizer. Mais uma vez ela tinha razão, eu me isolei do mundo achando que resolveria meus problemas. Porém, só foi pior; minha tristeza aumentou e a cada dia que passa me sinto mais perdida:
- Pois bem Júlia. Faça como as largatas, você destrua esse casulo de pessimismo que te cobre. Amadureça Júlia. Mesmo que depois de madura você só viva um dia. Cresça!
- Como eu vou crescer Francy? Como, se nem o amor da minha vida eu tenho mais?
- Vá a busca dele! Lute por seu amor. Não desista dele facilmente. Você se entrega muito fácil!
- Eu já fiz isso. Ele não quer me ver, será que você não entende? Que droga de vida! Eu não deveria ter voltado para essa cidade.
- Deixe suas reclamações de lado. Existem pessoas em situação pior que você. Muitas pessoas nesse momento queriam ver; andar; falar. Agradeça a Deus por você fazer isso tudo.
- É verdade. Muito obrigada minha amiga. Não sei o que seria de mim sem você. – fui ao encontro dela e nos abraçamos.
- Bem, vamos começar rompendo esse casulo hoje. Vim te chamar para sair conosco hoje.
- Conosco? – pressenti que já vinha mais uma loucura dela.
- Sim, comigo e meu namorado.
- Namorado? Não acredito! Você não me contou que estava namorando.
- Se você atendesse meus telefonemas saberia!
- Desculpa Francy. Mas me conte agora que história é esta de namorado. – de tristeza, passamos rapidamente para o humor.
- Eu o conheci no dia da morte de Paulo. Eu estava com ele quando me ligaram.
- Você estava com ele onde mocinha?
- Calma Júlia! Eu estava com ele no parque 13 de maio. Estava apresentando a cidade.
- Ele não é daqui?
- Não. Ele é da Amazônia. Ele é geólogo, está fazendo especialização aqui. Chegou há pouco tempo.
- Como ele se chama?
- Arthur.
- Como você o conheceu?
- Na universidade. Lembra do projeto que te falei?
- sim, lembro.
- O governo liberou a verba. O Arthur foi convidado para trabalhar, juntamente comigo, no projeto.
- Interessante essa história toda Francy. Ele tem muitas coisas em comum com você: é geólogo, mora na Amazônia, só falta ele ser índio para ser o homem dos seus sonhos.
- Ele é índio! – rimos freneticamente. Ela era a única pessoa que me fazia rir. Tinha uma grande vocação para palhaça.
- Como assim?
- É o que eu disse. Ele é índio. É de uma aldeia que vive perto do rio amazonas. Arthur é o nome dele em nossa sociedade. Na tribo, ele se chama ARAQUÉM.
- Ai Francy! Você é hilária.
- Eu estou feliz Júlia.
- Eu também fico muito feliz por você. E quero conhecê-lo. Aonde vamos hoje?
- Eu estava pensando em ir à feirinha de boa viagem. O que você acha?
- Perfeito. Adoro aquele lugar.

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