sábado, 20 de novembro de 2010

Júlia. Nunca é tarde para amar.(capítulo II)


O tempo...
                     (O melhor professor que há)



Seis meses se passaram e eu não tive mais notícias de Luís Octávio. Naquele dia ele estava nervoso com os acontecimentos. Perdeu a mulher inesperadamente e ainda me reencontrou; não deve ter sido fácil. Hoje ele deve estar mais calmo, por isso não me procurou. Ele sabe que é culpado por tudo o que aconteceu entre nós.
     Ficar pensando em passado não é bom. É melhor deixar que a vida se encarregue de nos conduzir. É o que faço hoje, tento não ficar pensando em Luís Octávio e em toda aquela história. Aconteceu, isso é inegável, mas agora passou e não adianta ficar lembrando. Tenho que seguir em frente, ocupar todo meu tempo livre.
    No hospital tudo continuava do mesmo jeito. Trabalhando muito, mas feliz.
  Eu estou fazendo trabalho voluntário em um posto de saúde na comunidade do Coque. Atender essas pessoas me faz muito bem. Grandes histórias de vida. Pessoas guerreiras, que mesmo sendo excluídas por uma grande parcela da sociedade, não perdem o sorriso e a esperança de um amanhã melhor. Esperança que um dia tudo mude; que um dia tenham assistência à saúde, à educação, a saneamento básico, a uma vida digna.
    Aquelas pessoas lembravam minha infância. Sou filha única. Não gozei de muitos privilégios. Vim de uma família classe média baixa. Meus pais sempre trabalharam muito para que eu pudesse estudar.
     Sempre sonhei em ser médica. Obstetra. Não foi fácil chegar até aqui. A vida é fácil para quem tem poder aquisitivo e dispõe dos melhores recursos para estudar. Eu sempre estudei em escola pública; lá encontrei de tudo: Desde alunos desinteressados a professores excelentes que, mesmo ganhando tão pouco, ensinavam com muito amor.
      Eu venci. Consegui passar em medicina. Foi o dia mais feliz da minha vida. A sensação que tinha era que valeu a pena tanto esforço. Valeu passar noites acordada, estudando.
     Na faculdade eu era a mais nova da turma. Era a mascote. Estudei bastante, mais do que antes. Queria que meus pais sentissem orgulho de mim. Eles sentiram. Quando eles faleceram, senti uma sensação de dever cumprido, sempre lutei para que eles tivessem uma vida saudável, uma velhice confortável.
     Ajudar essa comunidade me faz sentir viva. Sei que meus pais estão felizes por minha atitude.
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     Algo bom aconteceu. Ana estava grávida de três meses. Como fiquei feliz. No fundo senti um pouco de inveja da Ana. Sempre sonhei em ser mãe. Amo criança, mas a vida corrida que tenho acabou por afastar esse sonho de mim.
    Mentira.
     A Ana também é médica, e engravidou.
     Na verdade, dediquei-me tanto aos estudos que não vivi. Dediquei só à medicina. Octávio foi o único homem que eu amei. Não me arrependo de nada, gosto da minha profissão. Sou realizada no que faço. Mas confesso que se eu tivesse um filho seria mais realizada.
     Quando eu namorava Octávio, nós planejávamos ter três filhos, casar, viajar pelo mundo... Lembranças, nada mais. O triste fado da vida mudou meus planos. Hoje eu estava “solteirona”, e Octávio estava viúvo e com um filho para criar.
   O que teria acontecido com ele? Não tive mais notícias do que aconteceu. Procurá-lo eu não iria!

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