quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Júlia. Nunca é tarde para amar...(capítulo IV)

O julgamento...
                            (Que a justiça seja feita)

    “Um ano após a morte da psicóloga Maria Clara Cavalcantti Sodré, e os acusados ainda não foram presos. O julgamento está marcado para próxima quarta feira às 8hrs da manhã, no fórum local.”
  “Em entrevista ao jornal, o viúvo da psicóloga Maria Clara Cavalcantti Sodré, o advogado Luís Octávio Cavalcantti Sodré disse que lutará até o fim para ver os acusados pela morte de sua esposa na cadeia.”

  Essas e outras notícias estavam estampadas em todos os jornais da cidade. Comprei um exemplar; tinha uma foto do Octávio na capa.
 Quando eu cheguei em casa liguei o noticiário da manhã. Aguardei alguns instantes por alguma notícia sobre o caso. Até que ela veio:
  “Está confirmado, para próxima quarta feira, o julgamento dos três universitários acusados pela morte da psicóloga Maria Clara Cavalcantti Sodré; morta em maio do ano passado, após uma batida de carro, na zona sul do Recife. A psicóloga voltava de um shopping quando seu carro foi atingido por um celta preto; onde estava três estudantes universitários, classe média alta. Os exames realizados apontaram que os três amigos haviam usado drogas, além de bebida alcoólica. A expectativa da família é grande para que tudo seja resolvido neste julgamento, e os acusados paguem pela falta de responsabilidade dos mesmos.”

  Fiquei muito triste com aquela notícia. A irresponsabilidade daqueles três “filhinhos de papai” havia ceifado a vida daquela mulher. Havia deixado um filho sem mãe. Como estaria o Octávio? Na foto do jornal ele estava com uma aparência sorumbática.
  Ao ver essas notícias, relembrei a noite do acidente.
   Um ano se passou, e os acusados ainda estavam na rua deixando todos nós sob o risco de acontecer o mesmo que aconteceu a Maria Clara. Infelizmente a justiça no Brasil só é rápida para quem não tem dinheiro. Espero que isso mude no futuro; que as pessoas sejam julgadas por seus atos, e não por bens.

  Terça-feira. Faltava um dia para o julgamento. Senti vontade de ir e ficar de longe a observar tudo. Na TV disseram que estava marcado para 8 horas da manhã. Eu não iria trabalhar nesse dia. Resolvi ir, mas não queria que me vissem. Lembrei de uma frase que li em algum lugar que não lembro:
   “Quem quer ser invisível não olha as pessoas nos olhos”.
    Eu só precisava sentar na última fileira, assim ficaria misturada a massa que assistiria o julgamento.
    O fórum estava cheio de repórteres e de curiosos, no lado de fora. A sala, onde aconteceria o julgamento, estava lotada. Consegui entrar para assistir. Fiquei na última fileira. Octávio entrou triste. Em seguida chegaram os outros participantes. O ambiente estava tenso. O juiz aparentava impaciência.
    O julgamento começou. Octávio estava nervoso. Não consegui ver ninguém da família de Maria Clara. Toda a história foi recontada. Todos ficaram emocionados com a narrativa dos fatos. Octávio chorava. Como eu queria estar ao seu lado.
    A narrativa foi interrompida. Alguém tinha desmaiado. Uma senhora esta sendo carregada por uma equipe médica. Era a sogra de Octávio. Pobre mulher! Não deve ser fácil para uma mãe estar de frente aos assassinos de sua filha, e ter de ouvir toda aquela história novamente.
   Após todos falarem, o juiz pediu uma pausa. Quando voltasse, daria a sentença final.
   Durante a pausa aproveitei para verificar meu celular, que ficou desligado. Chamadas do Paulo. Liguei para ele:
   - oi, Júlia. Você está em casa?
   - oi, Paulo. Não estou por quê?
   - está passando na TV sobre o julgamento do caso Maria Clara.
   - Eu sei Paulo. Eu estou aqui no fórum. Acompanhei todo o julgamento. Neste momento o juiz pediu um intervalo para homologar a sentença dos réus.
  - não acredito que você foi!
  - estou falando a verdade. Bem, preciso desligar. A seção irá começar. Amanhã conversamos no hospital.
- tudo bem. Quero saber tudo amanhã.
   O julgamento recomeça. A tensão na sala só aumenta. Percebo que os advogados de defesa estão impacientes.
  - Peço que todos fiquem de pé para a entrada do meritíssimo...
  Após todos os proclames jurídicos, o juiz dá a sentença:
  - Acusados por crime culposo...
   A platéia vibrou de alívio. A justiça foi feita, ao que parece. Os advogados de defesa afirmaram que iria recorrer, mas os acusados teriam que aguardar na cadeia.
   Assim que o juiz pronunciou a sentença, fui embora. Preferi evitar o tumulto quando acabasse. Eu não queria encontrar Octávio ou alguém de sua família.
  No caminho para casa liguei o rádio; queria saber mais notícias:
 “Após duas horas e meia de julgamento, os três estudantes foram acusados por homicídio culposo, sem intenção de matar. A sensação, da família e dos amigos da psicóloga, é de alegria. A família não quis falar com a imprensa. O julgamento foi tenso. A mãe da psicóloga desmaiou depois de uma hora de iniciado o julgamento, sendo socorrida pela equipe do SAMU que estava presente. Mais notícias em breve.”
                    Desliguei o rádio...

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