sábado, 27 de novembro de 2010

Júlia. Nunca é tarde para amar...(capítulo VIII)

O Sepultamento..
          (Ainda não acredito)


O médico liberou-me para ir ao enterro. Uma tarde triste. Eu gostaria que tudo isso fosse um sonho, um triste sonho.  Eu queria acreditar que era só uma brincadeira, que em breve Paulo apareceria, e todos nós seríamos felizes. Mas, infelizmente, não era um sonho, nem tão pouco uma brincadeira. Era a vida sem maquiagem.
  A caminho do cemitério eu pensava nos últimos momentos que tive com ele. Relembrava, com muito esforço, de suas últimas palavras. Ele me disse que os bons morrem jovens, pura verdade! Enquanto eu pensava na música de Renato russo, o rádio começou a tocá-la:
 “É tão estranho
  Os bons morrem jovens
  Assim parece ser
  Quando me lembro de você
  Que acabou indo embora
  Cedo demais!

  Quando eu lhe dizia
  Me apaixono todo dia
  É sempre a pessoa errada
  Você sorriu e disse
  Eu gosto de você também
 Só que você foi embora
 Cedo demais!

Eu continuo aqui
Meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você

Em dias assim
Dia de chuva
Dia de sol
E o que sinto não sei dizer...”

 Parecia algo combinado. Comecei a chorar. Segurei firme na mão de Francy e encostei minha cabeça em seu ombro:
 - O que foi Júlia?
 - Essa música... – mal conseguia pronunciar as palavras.
 - O que tem essa música, minha querida.
 - Antes de morrer, Paulo falou dela. Ele me disse que os bons morrem jovens. E, enquanto eu pensava nisto, ela começa a tocar no rádio.
  Francy não sabia o que dizer. Ana interrompeu o silêncio:
- Chega de rádio, por enquanto.
- Não Ana. Deixe-o ligado, por favor.
- Ana tem razão. Você não chegou ao cemitério e já está muito alterada.
  O cemitério estava cheio de pessoas. Paulo entrosava as pessoas facilmente. Assim que cheguei ao hospital ele me apresentou todos: do zelador ao diretor.
   A mãe e a irmã de Paulo estavam incontroláveis. Não deve ser fácil para uma mãe perder um filho tão jovem. Supera-se a dor da morte de uma mãe, de um irmão, de um amigo... mas a dor da morte de um filho é eterna. Eu não tinha o que falar aos parentes dele, não naquele momento. Nada do que falamos nessas horas ameniza a dor. Preferi o silêncio, muitas vezes ele fala mais que palavras.
   Aproximei-me de dona Luísa. Abracei-a fortemente. Ficamos por alguns segundos em silêncio. Ela abraçava-me, enquanto eu molhava sua roupa com minhas lágrimas. O mundo parou, para mim, naquele momento. Senti-me abraçando o próprio Paulo. Ao longe avistei Cláudia, a noiva dele. Após cumprimentar alguns parentes de Paulo fui até ela. Não foi diferente de dona Luisa. Abracei-a e juntas choramos.
   O funeral foi muito triste. Tudo estava com um ar lânguido: uma manhã apagada. Os pássaros não cantavam, as flores perderam a cor, o céu perdera o brilho. Eu caminhava em direção ao caixão, amparada por Ana e por Francy.
   Ao vê-lo ali, naquela condição-inerte-, eu não aguentei. Tudo começou a rodar. Uma leve tontura foi tomando conta de mim:
 - Júlia! Ajude-me Anna, Júlia desmaiou. – gritou Francy.
  Elas tentavam, em vão, tirar-me dali. A multidão impedia que eu saísse. Mais uma vez eu estava invisível. Enquanto elas lutavam em me levar para fora, eu ouvia rezas misturadas a choros e lamentos:
 -“Ave Maria cheia de graça, o senhor é convosco...”
 - Com licença, por favor! Por aqui Francy.
- Não, Paulinho. Por que meu Deus?
 - “Pai nosso que estais no céu, santificado seja o vosso nome...”
 - Com licença senhora. Por favor, senhor licença!
- Eu quero meu amigo de volta senhor!
 -“... Bendita sois vós entre as mulheres e bendito o fruto...”
 - Ana? Francy? Quem são essas pessoas? Por eu estou sendo carregada? Por que elas rezam? Por que tanta vela?
- “... Venha a nós o vosso reino, seja feita a vossa vontade...”
- Volta Paulinho, por favor! Nãos nos abandona meu amigo!
- calma Júlia. Nós estamos tirando você daqui.
- “... Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte, AMÉM.

 

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