sábado, 20 de novembro de 2010

Júlia. Nunca é tarde para amar.(capítulo III)

 Uma breve conversa...
   (as vezes precisamos reconhecer nossos erros)

  
  Acordei feliz como nunca. Era meu dia de folga, só iria trabalhar à noite. Não queria ficar em casa. Queria sair por aí. A cidade é muito grande, e tem diversas formas de lazer.  Pensei em ir à praia. Depois eu decidiria para onde ir. O que eu queria era aproveitar meu dia.
   Liguei para Ana, ela estava de plantão. O Paulo também. Fui abandonada por eles! Eu não queria ficar em casa, então, resolvi ir só.
   A praia estava linda como sempre. Dessa vez sem chuva. Em frente à feirinha de Boa Viagem. Sempre que vou à praia fico por lá. Uma das partes mais calma, em minha opinião.
    Tudo parecia que cooperava para o meu bem nesse dia. O sol estava radiante. O mar estava calmo. Reflexivo.
  Por alguns instantes, esqueci completamente quem eu sou. Esqueci que era a Doutora Júlia Barreto. Naquele momento eu era só uma transeunte.
  À tarde fui ao cinema no shopping perto da praia. Vi uma comédia; que eu adorei. Fez me rir muito. O dia estava acabando e eu precisava voltar para casa e me ajeitar; uma longa noite de trabalho estava a minha espera.

   Quando cheguei ao hospital encontrei a Ana:
   - “Doutora Júlia!” Uma médica como a senhora não pode tirar folga! – a Ana sempre irônica comigo. Ela reclamava do meu perfeccionismo profissional.
  - Pois é “Doutora Ana”, às vezes precisamos nos cuidar. Afinal, nós temos que estar bem para cuidar de nossos pacientes. – rimos.
  - Ai Júlia! Como fico feliz em saber que você aproveitou sua folga. Sinto muito por não ter lhe acompanhado.
  - Não tem problema Ana. Foi melhor eu ter ficado só. Eu precisava refletir sobre minha vida. – neste momento, Ana olhou-me com uma cara intrigada. Uma dúvida transparecia em sua face.
  - Ainda Octávio, Júlia? – eu temia que ela perguntasse isso.
 - Ainda o Octávio Ana! Por mais que eu tente não lembrar, eu não consigo Ana. Ainda tenho a imagem do cinismo dele me dizendo que não disse nada!
  - Sabe o que penso disso tudo Júlia?
  - O quê Ana? Pode falar.
  - Nada está resolvido entre vocês, como você costuma dizer. Acho que vocês precisam conversar.
  - Não é fácil para mim, Ana. O Octávio foi o homem que mais amei. Ele me enganou. Nós tínhamos planos, e ele se esqueceu disso!
 - Será que foi assim mesmo, Júlia? Será que só ele errou? Você não teve provas de nada, foram só hipóteses!
- Era a letra dele, Ana! Não tinha como eu não acreditar.
- Você nunca procurou saber dele sobre essa história. Tenho certeza que até hoje ele não sabe o que aconteceu, de verdade. Simplesmente você acreditou no que estava escrito em uma folha de papel e fugiu. Pegou o primeiro avião para Paris. Você foi imatura Júlia, e até hoje sofre por causa de sua irresponsabilidade.
- Agora você está defendendo-o Ana? – fiquei ligeiramente enfurecida com aquela conversa.
- Não estou a defender ninguém! Só estou lhe aconselhando, como sua amiga. Você precisa procurá-lo e esclarecer tudo. Você é orgulhosa demais; isto não é bom. Ligue para ele e chame-o para conversar.
  CONVERSAR Júlia. Só através de um diálogo, sem brigas, que você saberá a versão dele sobre o ocorrido.
  - Você está completamente certa. Eu fui imatura. Não dei oportunidade para que ele se defendesse, fui logo o julgando. – um leve choro tomou conta de mim. Senti-me desgastada por dentro. Eu errei também.
 - Muito bem minha amiga. Você precisa reconhecer que errou. Procure-o, mesmo que vocês não voltem, mas você resolverá isso, e só assim seu sofrimento acabará.
- muito obrigada Ana. Você e o Paulo são muito especiais para mim. – o choro ainda continuava. Abraçamo-nos e nos despedimos.
   Saí nostálgica daquela sala. Tudo o que Ana havia dito era verdade. Eu precipitei-me, como fiz em minha vida toda. Mas eu estava com raiva dele e não pensei em nada. Agi sem medir as consequências; e estava pagando por isso.
   Por mais que eu desejasse, não tinha coragem de procurá-lo. Meu orgulho, ainda, é muito forte.
 “Você é orgulhosa demais; isto não é bom.”
   Essas palavras ficaram gravadas em minha mente por muito tempo. Ela tinha razão. Eu era muito orgulhosa. “Cabeça dura”, como o Octávio sempre me chamava.
   Passei o resto da noite triste. Meu dia foi tão bom! Mas eu precisava escutar tudo aquilo.
  No refeitório encontrei com o Paulo e com a Ana:
  - Júlia, como você está bronzeada!- comentou Paulo.
  - Pois é, aproveitei o máximo que pude do sol. – rimos.
  - Tudo bem Júlia?- perguntou-me Ana.
  - Tudo sim, Ana. Muito obrigada por tudo. Refleti sobre tudo o que você me disse.
  - O que aconteceu que eu não fui informado? – Paulo não estava a entender sobre o que falávamos.
  - A Júlia com seu amor platônico! Depois eu te conto melhor – falou ironicamente Ana.
- Não Júlia! Ainda essa história com o Octávio? Pensei que você tivesse resolvido.
 - Não é fácil Paulo. - falei com raiva. As pessoas acham que tudo é muito simples, quando não acontece com elas.
 - Bem, vamos esquecer essa história do Octávio. Conte-nos como foi seu dia Júlia. Pelo o que me parece foi ótimo! –salvou-me a Ana. Eu não queria falar novamente neste assunto.

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