segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Maria e o celibatário

                                        

Ela era Maria. Ele era um futuro celibatário! Maria era cheia de sonhos. Ele queria viver para ajudar o mundo. Triste destino, destes dois, que se cruzaria. Maria estava muito triste com a vida! Precisava de tranquilidade, precisava de um lugar distante de todos. Ela resolveu aventurar-se em um retiro da igreja católica que sua amiga frequentava. Mesmo não gostando de religião ela foi. Maria era agnóstica, mas não era ateia!
  “lugar perfeito”-pensou Maria ao chegar. Um casarão enorme e silencioso. Aos poucos Maria fazia amizade com os outros participantes daquele retiro. Tudo começou bem, ela ficaria no último quarto de um longínquo corredor. Não importava, o que ela queria era ficar só para refletir, queria sair dali uma nova Maria. Ela era Maria. Ele era um futuro celibatário!
 Maria sentia-se perdida com tanta reza, com tanto nome de santo, com tanto amém. Tudo em coro. Parecia que eles tinham nascido já sabendo aquilo tudo. A cabeça de Maria estava um nó com tanta coisa dita ao mesmo tempo! Ela só gesticulava com a boca, tentava imitá-los. Tinha momentos que ela não conseguia acompanhá-los nas rezas. Todos ficavam a olhá-la como se ela fosse de outro mundo! Eles não sabiam que Maria só estava ali por causa da paz que aquele ambiente proporcionava-lhe. Ela não se importava e seguia em frente.
 Na missa das seis, Maria o vira. Aquele menino calado chamara a atenção dela. Percebendo que ela o olhava, ele sorriu. O coração de Maria batera mais alto, as mãos tremiam; parecia uma menina de quinze anos apaixonada pelo “bonitão” da escola. Maria desligara-se de vez da missa, só pensava nele. “amor à primeira vista? Será que estou apaixonada? Que bobagem minha! – questionava-se Maria, enquanto olhava o lindo jovem a sua frente. Quando todos os trabalhos religiosos, seguidos do jantar, acabavam as pessoas podiam dormir.
 Na madrugada daquela sexta-feira, Maria sentiu vontade de ir ao banheiro, que ficava do outro lado do acampamento. Maria sentia que estava sendo seguida. Ela estava com medo. O casarão era antigo e muito sombrio à noite. De súbito, o braço de Maria foi puxado. Ela tentou gritar, mas sua boca foi silenciada. “psiu! Sou eu Maria “- era ele, o jovem bonito da missa. “como você sabe meu nome?”- indagou ainda assustada, Maria. “sabendo Maria”- respondeu o jovem com um sorriso no rosto.” o que você quer comigo?”- perguntou Maria já sabendo da resposta. “você é linda, Maria!”- não precisou dizer mais nada. Beijaram-se frente à cidade iluminada. Uma visão sem explicação! “encontre-me amanhã em frente àquela árvore nessa mesma hora, Maria.”- ela ficara cética. Parada como uma múmia. Por alguns segundos esqueceu o que estava fazendo antes de tudo. Ela não conseguiu dormir naquela noite.
 No outro dia, Maria acordara com uma súbita alegria, e sua amiga não entendia o porquê daquilo tudo. Porém, ela era Maria. Ele era um futuro celibatário. Ela passou o dia todo ansiosa, queria que a noite chegasse logo. O tempo é o maior inimigo dos apaixonados! Quando a madrugada chegou, lá estavam eles a namorar. Aquela árvore seria a testemunha daquele frágil amor.  Mas a vida não é só feita de maravilhas!
Ela era Maria. Ele era um futuro celibatário! Na missa do domingo de manhã, Maria teve uma triste surpresa. Anunciaram que seu lindo jovem seria proclamado celibatário, em breve. Ela não entendera nada. “o que faz um celibatário?”- torturava-se ela. Maria preferiu não perguntar a moça do seu lado o que significava aquilo, não queria passar mais vergonha. Ela só tinha certeza de uma coisa: celibato não era uma coisa boa, pois, o belo jovem a olhava desapontado. O lindo sorriso, que ele sempre ostentava, desapareceu.
 Mais tarde, Maria perguntou a sua amiga a que faz um celibatário. “celibatário é aquele que vive em celibato. Celibato, Maria, é uma coisa linda; É um dom.”- falou a amiga com alegria. “um dom? Como assim um dom?”-Maria estava confusa, não entendera nada. “celibato é um voto que se faz a Deus, Maria, para viver só para ele. Viver trabalhando para o senhor. Quem faz esse voto não pode casar, tem que viver exclusivamente para o senhor ”- o mundo de Maria caiu com aquelas últimas palavras. “Não pode casar? Como assim?”- pensava Maria.
 Estava explicado, agora, o motivo da cara de seu amado ao ouvir as palavras proferidas pelo padre. Maria estava frustrada; saiu correndo à procura do lindo jovem. Não o achou. Foi até a árvore para externar seu choro. Depois de algum tempo o lindo jovem apareceu. “Desculpa Maria, eu não queria te machucar”. “Machucar? Você me destruiu!”. “desculpa por tudo, eu deveria ter te contado antes. Eu te quero Maria”. “então desista do celibato! Fique comigo!”- falava Maria aos prantos. “Posso não Maria, é meu chamado. Eu tenho que segui-lo.” – o lindo jovem se foi após aquela conversa.
 O retiro acabou. Maria voltou para casa pior do que chegou. Seus planos foram frustrados. Ela só queria descansar, esquecer do mundo. E agora, estava desiludida, com uma amargura em sua alma. Maria não viu mais o futuro celibato.
 O que aconteceu com eles? Maria continua a mesma Maria. Ele agora é um celibatário! Maria não se apaixonou por ninguém mais. Não acredita mais no amor. Vive sozinha! Triste Maria vive também em um celibato, porém, um celibato forçado, amargo.
                                            Jefferson Piaf

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