sábado, 27 de novembro de 2010

Júlia. Nunca é tarde para amar...(capítulo VI)

Minha querida Francy.             
                            (Uma flor em meio ao caos)

De: Francy.
Para: Júlia.
 “Júúúúúúúúúúlia... estou chegando amanhã dos Estados Unidos. Estou morrendo de saudade de você amiga! Terminei o doutorado, estou cheia de novidades.
  Aaaaah... Vá me buscar no aeroporto dos Guararapes amanhã às 14hrs, e não venha com a desculpa que vai trabalhar! Ingrata!”
      Fuiiiii
Bjs de sua querida Francy!
    ;)

Quando eu li aquele email, não consegui segurar o riso. Mesmo depois de tanto tempo, ela continuava maluca do mesmo jeito! Eu estava louca de saudade da Francy.
  Eu a conheci na época da escola. Ela é minha melhor amiga. Vivíamos o tempo todo juntas.
 Ela sempre foi intrépida, descolada. Eu era a tímida, que tinha medo de tudo. Para Francy a vida era uma aventura, o bom era correr riscos. Ela sempre me dizia que queria ter histórias para contar aos filhos. Depois que a escola acabou nossa amizade só cresceu.
  Entramos no mesmo ano na universidade. Ela em geologia e eu em medicina.  Ela agitava a universidade com seu jeito festivo, de bem com a vida. Em pouco tempo, conhecia quase todo mundo de lá. Sempre estava nas festas, e quando faltava uma, as pessoas reclamavam. Mesmo sendo completamente louca, no bom sentido, ela era muito responsável. Estudava muito, queria fazer doutorado no exterior e quando voltasse iria morar na Amazônia, com os índios. Ela contagiava-me com seus sonhos. Uma eterna sonhadora, e agora estava de volta!
    Depois de um ano que eu estava morando em Paris, ela conseguiu uma bolsa de doutorado nos Estados Unidos. Desde então, nosso contato era pouco.
    Ela acompanhou de perto minha história com Octávio. E hoje, vejo que ela estava certa quando disse que eu deveria procurá-lo antes de fazer qualquer coisa.
   Como eu quero ver essa garota! Ela deve ter colocado os Estados Unidos de cabeça para baixo. Eu não posso deixar de ir ao aeroporto. Quero muito abraçá-la, relembrar os velhos tempos de colégio, de faculdade, de juventude.
 Cheguei cedo ao aeroporto, fiquei esperando perto do desembarque. Não demorou muito para que eu a visse. Continuava do mesmo jeito, um pouco pálida, mas do mesmo jeito.  Aquele andar despojado que eu adorava. Ela continua a mesma adolescente!

  - Júlia!
  - Francy! Que saudade de você! –abraçamo-nos profundamente.
 - Meu Deus! Você continua do mesmo jeito francy!
 - muito obrigada, eu sei que continuo linda!
- muito modesta você! – caímos em riso.
- Ai Júlia. Vamos sair hoje? Quero andar novamente pelas ruas de Recife. Como senti falta daqui. A única coisa que não senti falta é da violência.
- concordo com você Francy. É uma pena que um país tão lindo como o Brasil; que possui pessoas tão acolhedoras seja tão pobre em segurança.
- Já vem você com suas críticas sociais. Pelo que vejo não só eu que continuo a mesma. Vamos deixar esse papo de política. Quero mais é aproveitar o que esse lugar tem de melhor, e recuperar o tempo que estive longe.
- você tem razão!
 - Júlia, eu me esqueci de perguntar: e Octávio?
- Nem fale Francy. Você estava certa. Ele não tinha escrito a carta. Ficou furioso comigo, pelo o que eu fiz. Ele deve estar odiando-me essas horas. Estou péssima com tudo.
- Mas quem escreveu a carta Júlia? A letra era idêntica a dele!
- Não faço a menor idéia minha amiga! Quem fez isto me queria ver longe dele. – Francy me olhava com seu olhar circunspecto.
- Já sei! – ela deu um grito que todos que passavam pararam para nos olhar.
- Já sabe o quê?
- Não, nada. Só pensei alto. Vamos deixar isso para lá.
- Está bem. Francy, falando em amores passados, e Júlio?
- Não sei dele. Deve ter se casado com algum carinha.
- como assim, se casado com algum carinha?
- Isso mesmo que te falei. Eu descobri que Júlio era gay, estava namorando comigo só para enganar os pais.
- Não acredito nisto!
- Pois acredite. Na verdade, ele estava em dúvida quando me conheceu. Não sabia o que queria.
- E como você soube que ele era gay?
- Ele mesmo me contou. Disse-me que estava cônscio de sua opção sexual e não queria mais fugir disso. Iria assumir para todos o que ele realmente era.
- E você, o que fez?
- Eu não fiz nada. Chorar eu não iria, e morrer por ele muito menos.
- Mas ele era o amor da tua vida, como você sempre dizia.
- Falou bem Júlia! Era, não é mais. Eu só pedi a ele que fizesse isso depois que eu estivesse longe. Eu não queria que as pessoas me vissem e dissessem que eu era a namorada do “viadinho”. – o que me deixou mais estarrecida foi que ela me falava tudo isso aos risos.
- Você é mais maluca do que eu pensava! E você namorou mais alguém depois dele?
- Claro! Para freira que eu não iria ficar. Conheci um canadense que morava em Nova York, ele foi o amor da minha vida por três meses.
- E...? – Eu estava ficando confusa com aquilo tudo. Muitas informações em pouco tempo.
- Eu enjoei dele. Cansei e terminei tudo. Agora quero casar com um índio, quando eu me mudar para Amazônia.
- Ainda essa estória de Amazônia?
- Sim. Em breve irei para lá. – agora eu que não consegui segurar o riso. Eu querendo morrer, e ela pensando em índio na Amazônia!
- Você surpreende-me cada vez mais!
- Eu quero é ser feliz Júlia. Vamos! Recife nos espera.


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