quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Júlia. Nunca é tarde para amar...(capítulo V)

Uma visita inesperada...
                    (o destino preparou-me uma surpresa)


  









  
  Consegui outro emprego. Era uma clínica particular; atenderia às tardes, três vezes na semana. As coisas estão caminhando positivamente na minha vida. Ana estava de licença do hospital, seu bebê - Laura- estava com dois meses. Paulo estava noivo. E eu, do mesmo jeito...
  Eu estava na clínica quando a secretária me disse que tinha um homem que gostaria de falar comigo:
- Como é o nome dele Mônica?
- Ele disse que se chama Luís Octávio; precisa falar com a senhora. - fiquei muda no telefone por alguns segundos. O que ele queria comigo? Depois de tanto tempo!
- Alô? Doutora Júlia?
- sim Mônica... Diga a este senhor que eu só tenho mais uma paciente; quando eu terminar de atendê-la eu o receberei. Peça a ele que espere.
- tudo bem.
  Não entendi por que ele me procurou depois de tanto tempo. Fiquei curiosa para saber o porquê daquela visita inesperada.
    Foi a consulta mais demorada de minha vida. Estava nervosa, creio que a paciente percebeu isto:
  - Doutora Júlia?  Algo de errado comigo?
  - Não, Esther. Com você está tudo bem, e com o bebê também.
    Quando Esther saiu, minha aflição só aumentou. Pedi que Mônica mandasse-o entrar:
  - Octávio, Como você me achou aqui?
   - Eu lhe procurei você no hospital e o Paulo me disse que você estava aqui.
 - Aconteceu alguma coisa? – ele estava tão tenso quanto eu.
  - Não Júlia. Tem acontecido. – ele ficou mudo. Um breve silêncio tomou conta da sala. Após alguns minutos eu quebrei o silêncio:
 - O que tem acontecido Octávio?
- Eu não paro de pensar em você Júlia. Desde que te reencontrei naquele hospital que não paro de pensar em você.
- E por que você deixou para me procurar depois de um ano? – como sempre, minha arrogância queria falar mais alto.
 - Entenda Júlia. Eu estava muito transtornado com tudo. A morte, inesperada, de Maria Clara; meu filho; reencontrar-te. Tudo isto me deixou muito abalado. Eu primeiro precisava organizar minha vida para depois lhe procurar.
- Você tem razão. Desculpa por minha falta de compreensão.
- O que aconteceu com você Júlia?  Por que você sumiu daquele jeito?
 - você sabe muito bem. Eu era apaixonada por você, se eu ficasse aqui não conseguiria viver sem você! Se você soubesse de todo meu sofrimento, Octávio, nunca teria feito aquilo comigo. Você não sabe quantas noites eu passei acordada chorando, gritando por você... Cada segundo, cada minuto que passei na Europa eu só pensava em você!
- O que você está falando? Eu não fiz nada com você. Eu que lhe pergunto: Você sabe o quanto eu sofri? Creio que não Júlia. – pela primeira vez eu o vi chorar. Eu também não aguentei e chorei. Um choro que há muito tempo estava guardado em meu coração.
 - Este não é o momento para acusações Octávio.
 - Você que começou acusando-me com essa estória. A única coisa que sei é que você sumiu sem me dizer nada. Eu fiquei sabendo, depois de muito tempo, que você estava estudando em Paris. A Francy me contou, depois de muito eu insistir.
  - E aquela carta que você me mandou, dizendo um monte coisas horríveis? Você disse que nunca me amou; que eu era “a menininha do subúrbio”, e que sua mãe estava certa o tempo todo, você merecia algo melhor. Alguém ao seu nível. E ainda pediu na carta, que eu não o procurasse, nunca mais. Que eu sumisse de vez e lhe deixasse em paz. Foi o que eu fiz.
 - Por Deus! Eu nunca escreveria isto. Como você pode ter acreditado nisso tudo Júlia?
 - Era sua letra Octávio. Não era uma letra parecida com a sua. Era, simplesmente, a sua letra.
 - Eu já lhe disse que eu não fiz isso Júlia! Acredite mim. Você é o amor da minha vida. Eu chorava todas as noites pensando em você. Chorando sem saber por que você tinha me abandonado. – nosso choro estava incontrolável.
 - Eu sinto muito Octávio. Eu estava enfurecida com você. Poucos dias depois de todo este acontecimento, eu recebi uma carta da universidade de Paris informando que eu tinha ganhado a bolsa para o mestrado. Você sabe que sempre foi meu sonho estudar lá. Como eu estava muito enfurecida com você, eu resolvi aceitar.
- Você foi uma irresponsável Júlia. Você não acreditou em mim. Não acreditou no homem que te amava. Você preferiu acreditar em um pedaço de papel! E eu ingênuo sofrendo por você. Sofrendo por uma pessoa que nunca acreditou em mim; que me julgou sem me dar a oportunidade de defesa. – aquela aparência sorumbática havia se dissipado, após minhas últimas palavras. Octávio olhava-me, agora, com raiva.
 - Desculpe-me, meu querido. Eu sei que errei, mas eu era muito jovem, não tinha experiência alguma.
- Não precisa se desculpar Júlia. Para mim, tudo está resolvido agora entre nós. Não irei lhe procurar mais, você nunca mereceu o amor que te dei. – ele levantou-se e foi embora como um vendaval.

 Eu queria ter sumido daquele lugar. Agora eu estava certa de que nunca Octávio iria me perdoar. Nunca mais eu o teria de volta. Meu único companheiro naquele momento era o choro. Eu não tinha forças para ir trabalhar à noite. Eu estava me sentindo péssima por tudo aquilo. Pedi que minha secretária ligasse para o hospital e informar que hoje eu não compareceria. Queria fiar sozinha, em paz.

 Só um lugar tranqüilizava-me. O mar. Resolvi ir ao marco zero do Recife. Lá era mais calmo do que a praia, e tudo o que eu precisava era de silêncio. Eu amo o Recife antigo. Aqueles prédios antigos, aquele cheiro de mar com gosto de peixe, uma sinestesia total.
   Sentei-me em um banco, fiquei bem perto do mar. Por alguns instantes fechei os olhos, pensei em tudo e ao mesmo tempo em nada.
  Depois de refletir sobre minha vida, caminhei pelas ruas antigas de Recife, quanta história tem aquele lugar. É lastimável que seja tão pouco preservado! No futuro perderemos nossa história.

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